Nova nomenclatura na doença coronária
Artigo de Revisão (Circulation)
Ainda tentando acompanhar as novidades do mundo da cardiologia apresentadas no último congresso europeu?
😮💨 Por sorte, tivemos uma DozeNews e um episódio do DozeCast sobre o ESC 2024 para você ficar por dentro de tudo.
Mas não para por aí! Essa semana, o Circulation publicou um documento no qual propõe uma nova nomenclatura para a doença arterial coronária (DAC).
Vai me dizer que você nunca teve a dúvida de qual o termo certo para utilizar para a DAC: síndrome coronária crônica, doença isquêmica crônica, doença coronária estável?
Em uma tentativa de unificar esses termos e ainda incluir a doença não-obstrutiva, a AHA propõe dividirmos a doença coronária em:
Síndrome isquêmica do miocárdio aguda (acute myocardial ischemic syndromes - AMIS);
Síndrome isquêmica do miocárdio não-aguda (non-acute myocardial ischemic syndromes - NAMIS).
É, não ficou um nome tão fácil de “pegar” assim rs.
Vamos entender a lógica por trás:
Primeiro, tirar o “peso” das lesões coronárias epicárdicas na patogênese da doença miocárdica, uma vez que uma porcentagem considerável dos quadros de angina e IAM não têm doença obstrutiva (segue uma linha semelhante ao proposto na nova diretriz de DAC da ESC, que discutimos na semana passada).
Segundo, trocar o termo doença por síndrome ajuda a estabelecer uma associação com um quadro progressivo e que depende de diversos fatores.
Por fim, a opção pelo “não-aguda” no lugar do “crônica/estável” retira essa sensação de “baixo risco” que os termos antigos trazem.
Avaliando essas mudanças de forma crítica, sem dúvida são argumentos válidos considerando a crescente relevância da isquemia na doença não-obstrutiva.
No entanto, não podemos esquecer do outro lado: o paciente com doença aterosclerótica não-isquêmica. Já sabemos por estudos prévios que esse grupo também apresenta maior taxa de eventos e precisam ser tratados de forma precoce.
Assim acreditamos que o caminho seja pensar na doença coronária como um todo, de forma a incluir a isquemia e a anatomia de forma conjunta, e levar o tratamento da forma mais precoce aos nossos pacientes.
Qual a sua opinião: acha que esse novo nome é melhor que o antigo? Compartilhe conosco nos comentários!
MRAs: os Vingadores (ainda subutilizados) da IC
Artigo de revisão (JACC: Heart Failure)
Vamos falar sério: IC não é para amadores. É por isso que no combate a esse mal utilizamos um grupo de “heróis” (ou seja, medicações rs): o quarteto fantástico.
Beta-bloqueadores + iECA/BRA/INRA + antagonistas do receptor de mineralocorticoides (MRAs) + iSGLT2 são hoje as medicações com recomendação IA no tratamento da IC com fração de ejeção reduzida (IC FEr).
Eu sei, novidade para ninguém… Mas, e se uma dessas classes de medicações passasse a ganhar tanta importância ao nível de se tornar um “Vingador”?
Sim, estamos falando dos MRAs. O Tocha Humana (o menos marcante do quarteto fantástico) está tomando a importância de um Capitão América contra a IC.
Um paper interessante publicado na última semana no JACC aborda essa questão em detalhes!
Apesar de amplamente recomendados para combater essa bagunça na ICFEr, os MRAs sempre foram subutilizados. Por quê? Bem, temos algumas pedras no caminho, como a hipercalemia e efeitos adversos que nenhum paciente quer discutir com você (problemas sexuais, quem diria?).
Mas, calma lá! Recentes ensaios com pacientes diabéticos e com doença renal apontam que os MRAs não esteroidais (a finerenona) podem ser os novos Vingadores desse universo—reduzindo a morbidade e a mortalidade na IC, e com menos efeitos colaterais.
Quando falamos de IC com fração de ejeção levemente reduzida (ICFEmr) e IC com fração de ejeção preservada (ICFEp), vale a pena relembrarmos do destaque dado a eles no último congresso da ESC, com o FINEARTS-HF e com o FINE-HEART, que demonstraram importante potencial da finerenona na redução de desfechos clínicos e sintomas.
Ainda vamos aguardar mais ensaios clínicos para demonstrar melhor a segurança e eficácia dos MRAs, em especial a finerenona, no dia a dia clínico.
Por enquanto, já vale a pena a leitura da revisão para compreender melhor o papel desse “Vingador” no tratamento da IC.
Revascularização completa em idosos
Metanálise (Circulation)
Não é a primeira vez que os Dozers ouvem falar sobre revascularização completa em idosos (>75 anos).
Parece que foi ontem a publicação do estudo FIRE que mostrou benefício no período de 1 ano e englobou pacientes com IAM com e sem supra do segmento ST.
Por ser um tema ainda com assuntos em aberto, surge uma metanálise para auxiliar o esclarecimento sobre o tema.
Devemos ou não objetivar a revascularização completa em pacientes idosos que apresentaram IAM com supra de ST? O benefício evidente nos grandes trials sobre o assunto pode ser expandido para esta população? Parece que sim…
Vamos à metanálise:
Incluiu 7 grandes trials randomizados: os famosos FULL REVASC, COMPLETE, CvLPRIT, DANAMI-3-PRIMULTI, FIRE, PRAMI e um estudo por Hamza et al.
No total: 1733 pacientes entre 75 e 99 anos e com IAMCSST (917 pacientes com tratamento apenas da lesão culpada e 816 pacientes com revascularização completa)
Follow-up médio de 2,5 anos para um desfecho primário composto por morte, IAM e revascularização.
Os resultados:
Revascularização completa foi benéfica até 4 anos (HR 0,78; 95%CI 0,63-0,96)
No entanto, após um maior tempo de seguimento, perdeu-se este benefício.
Benefício no maior tempo de seguimento de morte cardiovascular e IAM no grupo da revascularização completa (HR 0,76; 95%CI 0,58-0,99).
Conclusão: até quatro anos houve benefício da revascularização em pacientes idosos submetidos a revascularização completa. No maior tempo de seguimento estabelecido pelo estudo, não houve melhora do desfecho primário, porém manteve-se benefício do desfecho secundário morte cardiovascular e IAM.
Entra aqui a questão da individualização. Em um intervalo grande de idades para pacientes idosos, o benefício da revascularização completa parece manter-se.
Como sempre precisamos ver o paciente de forma completa e levar em consideração as demais comorbidades no momento da decisão.
Se não pode com eles, junte-se a eles
Caiu na Mídia
Como alertar os adolescentes (aka, a geração Z) sobre os riscos do uso dos vapers para a sua saúde?
A opção foi apelar para aquilo que eles mais amam: os celulares.
Uma matéria da CNN demonstrou que um programa de mensagens interativas e anônimas foi benéfico na redução do consumo de vapers de nicotina.
"Pronto para parar? Envie uma mensagem de texto com a data em que deseja parar para receber dicas diárias algumas semanas antes e depois da sua data de parada."
Esta era a mensagem recebida pelos participantes do estudo randomizado publicado no JAMA que testou essa ideia.
Ele envolveu adolescentes dos EUA com idades entre 13 a 17 anos, interessados em parar de fumar dentro de 30 dias.
Os resultados foram animadores:
Medidos por abstinência de vaping de 30 dias aos 7 meses pós-randomização, mostraram que 37,8% dos participantes na intervenção abstiveram-se de vaping, comparado com 28,0% no grupo de controle.
Dessa forma destacaram a eficácia do programa de mensagens de texto na promoção da cessação do vaping entre adolescentes.
É isso, se a ideia é alcançar um certo grupo de pacientes, precisamos agir por meios que possam atingi-los.
Um giro pelas outras publicações do globo 🌎
🩸 A velha dúvida: como deixar a anticoagulação após oclusão do apêndice atrial esquerdo? Essa coorte demonstrou benefício na manutenção apenas do DOAC ou varfarina (sem o AAS).
🦵🏼 No clima da nova diretriz, uma revisão do JACC sobre as terapias antitrombóticas na doença arterial periférica.
🛍️ Revisão do JAMA sobre o diagnóstico, estratificação de risco e tratamento da pericardite.
💊 Interessante estudo publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia nos alerta sobre os riscos de reações adversas associadas ao uso do Benzonidazol na cardiopatia chagásica crônica.
🙇🏻♀️ Revisão sobre a patogênese e tratamento da disfunção microvascular.
🚸 Publicada Diretriz Brasileira de Ergometria em crianças e adolescentes.
🔬 Nanopartículas de plástico e seu efeito cardiovascular deletério de volta às manchetes.
🌐 Globalização da Doença de Chagas em artigo do The Lancet!