Angina estável: nova revisão no JACC
E mais: hipótese do ácido úrico na IC FEP e manejo da EAo moderada
Na edição de hoje:
📜 Revisão (estado da arte) do JACC sobre manejo da angina estável.
🧪 Associação entre o ácido úrico e a IC FEP confirmada, mas medicações para reduzir o ácido úrico (verinurad + alopurinol) não melhoraram sintomas.
🚙 Compreendendo melhor a EAo Moderada em outra revisão do JACC: sua divisão em 4 fenótipos auxiliou no entendimento do seu prognóstico.
Dicas de OURO no manejo da angina
Artigo de Revisão (JACC)
Diante de um paciente com queixa de angina você sente-se inseguro? Questiona-se como realizar a investigação, e ainda mais importante: como manejar a dor?
Esta revisão do estado da arte no tratamento da angina é para você.
Além de versar sobre a fisiopatologia e diagnóstico, há enfoque no tratamento centrado no paciente! Realmente incrível.
E, claro, a DozeNews chega na frente e entrega os pontos principais para você.
Primeiro, acerca do diagnóstico:
Realize uma estratificação anatômica para identificar ou descartar obstrução do tronco da artéria coronária esquerda (TCE) e doença multiarterial extensa! Preferencialmente pela angiotomografia de coronárias como primeiro exame.
Um ecocardiograma é fundamental para definição da função ventricular:
Pacientes com FEVE < 35% devem ser vistos com uma atenção especial, dado seu pior prognóstico, e importância da revascularização neste grupo.
Pacientes com angina e ausência de doença coronariana obstrutiva devem ser submetidos a uma avaliação invasiva complementar:
Testes funcionais com guia de pressão intracoronária para determinação de um dos diagnósticos: dor não cardíaca, angina microvascular, vasoespástica e mista (vasoespástica e microvascular sobrepostas).
O tratamento da angina apresenta-se em 3 pilares: mudanças de estilo de vida, medicações antianginosas e estratégia de revascularização que devem sempre ser compartilhadas com o paciente.
É… para quem pensou que a discussão do artigo era sobre cirurgia x angioplastia vai um belo banho de água fria rs.
Estilo de vida: realização de atividade física, emagrecimento e cessação do tabagismo estão no centro das atenções destes pacientes!
Dentre as medicações antianginosas temos: beta-bloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio, nitratos, ivabradina, trimetazidina, ranolazina e nicorandil.
Atenção! Há preferências e contraindicações de acordo com a classificação e fisiopatologia da angina!
Revascularização: deve ser avaliada a princípio em pacientes com disfunção ventricular, diabéticos com doença triarterial e acometimento do TCE, dando-se preferência para a revascularização cirúrgica!
Para finalizar, uma bela imagem central:
Ácido úrico x IC FEP
Ensaio clínico randomizado
Concordamos com a cara de interrogação ⁉ que você provavelmente está fazendo no momento.
De fato temos atirado para todos os lados no tratamento da IC fração de ejeção preservada (IC FEP) rs.
Sobrou até para o ácido úrico: a hipótese é que a hiperuricemia possa estar associada a disfunção endotelial. Assim, o seu tratamento pode ser um interessante alvo no manejo da IC FEP.
Sob essa perspectiva, foram publicados no JAMA os resultados do estudo AMETHYST, que avaliou a eficácia e segurança do verinurad, um inibidor do transportador de urato-1, em pacientes com IC FEP e níveis elevados de ácido úrico sérico.
Realizado em 59 centros de 12 países, o estudo randomizou 159 paciente com IC FEP e níveis de ácido úrico > 6 mg/dL para receber verinurad + alopurinol vs alopurinol isolado vs placebo.
O desfecho primário avaliado foi melhora nos níveis de captação do VO2 máximo, no questionário de qualidade de vida e nos níveis de ácido úrico.
Após 32 semanas de seguimento, mais uma decepção na conta do tratamento da IC FEP: apesar de uma redução substancial nos níveis de ácido úrico com o verinurad + alopurinol, não houve melhorias significativas na captação máxima de oxigênio ou nos sintomas comparados ao alopurinol sozinho ou placebo.
Nota 10 pela criatividade, porém 02 nos resultados… Em muito pouco o tratamento do ácido úrico ajudou no tratamento da IC FEP.
Estenose aórtica moderada: quem vai precisar de “manutenção”?
Coorte (JACC)
Imagine um carro com problemas no motor: não se sabe ao certo se é melhor consertá-lo agora ou esperar até que a situação piore.
A estenose aórtica (EA) moderada é como esse motor indeciso, que pode evoluir para algo grave ou apenas refletir as companheiras inseparáveis — comorbidades.
A grande questão é: substituir a valva aórtica agora ou esperar o motor engasgar de vez? A resposta pode estar em conhecer melhor esses "motoristas" (pacientes).
Um estudo foi publicado recentemente no JACC com o objetivo de organizar o trânsito caótico da EA moderada, criando grupos ou "carros" semelhantes para guiar melhor as decisões clínicas.
Os pesquisadores utilizaram algoritmos espertos pra fazer uma organização ao estilo Waze.
Com dados de quase 2.500 pacientes com EA moderada, eles criaram algumas “rotas” (ou clusters, se preferir).
Em seguida, testaram essas “rotas” em outro grupo de 1.358 pacientes.
O objetivo era evitar acidentes, ou seja, morte cardíaca, hospitalização por insuficiência cardíaca ou a necessidade de troca valvar.
Quatro grupos de "motoristas" com comportamentos distintos foram identificados:
Comorbidades cardiovasculares (sempre na oficina);
Baixo fluxo (dirige em marcha lenta);
Valva calcificada (motor com peça velha); e
Baixo risco (carro novo de fábrica).
O maior risco de problemas foi observado no grupo com comorbidades cardiovasculares (esse que não sai da oficina). A troca da valva aórtica fez diferença para os "motoristas" do grupo de valva calcificada (uma nova peça fez maravilhas!), mas para os outros grupos, o impacto foi mínimo.
O que podemos concluir?
A EA moderada é uma viagem cheia de desafios. Existem motoristas de todos os tipos, e as comorbidades são os grandes vilões que fazem o carro pifar.
Se a ideia é trocar a valva, é melhor identificar quem realmente precisa de uma peça nova, evitando gastos desnecessários.
Entender esses subgrupos pode ser a chave para manter todos na pista certa e evitar acidentes no caminho. Confira os detalhes na figura resumo do estudo abaixo!
A volta dos que não foram
Caiu na Mídia
Parece que foi ontem que estávamos lendo notícias sobre o surto da Monkeypox ao redor do mundo.
Nem deu tempo de nos adaptarmos ao seu diagnóstico e às características clínicas, ela “sumiu” da nossa prática.
Até que, essa semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou emergência de saúde pública internacional frente ao avanço de casos em países africanos e à identificação de uma nova cepa do vírus, chamada de Clado 1b, mais grave.
Essa infecção viral pode levar a sintomas como febre, aumento dos linfonodos, prostração e dores musculares, além das clássicas lesões de pele frequente dolorosas, bem delimitadas, com possível umbilicação central.
Como qualquer bom vírus, o Mpox pode levar a acometimento cardiovascular nas formas de miocardite e pericardite.
Uma revisão sistemática publicada no ano passado demonstrou um total de 13 casos de complicações cardiovasculares associadas ao Mpox (miocardite aguda, pericardite, derrame pericárdico e miopericardite), todas elas de perfil mais leve, e sem óbitos.
Imagem da Semana
Resposta do desafio da semana passada: aneurisma roto do VE 😖.
Que tal seguirmos a saga dos desafios?
A resposta do desafio e a explicação do sinal encontrado estão na nossa página do Instagram:
O seu giro preferido pelas principais publicações
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💊 O entresto além da IC? Estudo chinês demonstrou a sua eficácia no tratamento da hipertensão arterial primária.
⚔️ A briga que estávamos esperando! Quem é melhor para prevenção cardiovascular e renal: iSGLT2 ou aGLP1? Parece que temos um empate.
👁️ Xantelasmas não se associaram a aumento do risco cardiovascular neste interessante estudo da Ophthalmology.
⚡ IC FER + Fibrilação Atrial: essa revisão do JACC aponta novas abordagens para um velho problema.
🧬 AORTA Gene: escore de risco para predição de dilatação da aorta!
🫁 Editoral do EHJ exemplifica os perfis de hipertensão pulmonar de maneira didática: o bom, o ruim e o feio (piada antiga do próprio jornal rs)!