Atorvastatina na prevenção de cardiotoxicidade
E mais: novas drogas contra a obesidade e tabagismo; e avaliação do benefício do ajuste da dose da apixabana
Atorvastatina ao resgate!
Ensaio Clínico Randomizado (JAMA)
Se você acompanhou nossa cobertura do congresso da ACC (isso, ACC - em março), percebeu que em meio ao nebuloso mundo da cardiotoxicidade secundária a quimioterápicos, surgiu uma luz na forma de uma velha conhecida: a atorvastatina.
O estudo STOP-CA, apresentado em março e publicado essa semana no JAMA, avaliou o benefício do uso da atorvastatina na prevenção de disfunção ventricular em pacientes em programação de tratamento de linfoma.
Foram randomizados 300 pacientes com linfoma em programação de início de tratamento com antraciclinas para receber atorvastatina 40 mg/dia ou placebo.
O desfecho primário foi queda da FEVE ≥ 10% do basal, resultando em valores < 55% dentro de 12 meses.
O estudo obteve um resultado positivo, com redução absoluta do desfecho em 13% (p = 0,002), o que resultou em uma taxa de cardiotoxicidade 3x maior no grupo do placebo (OR 2,9; 95% CI, 1,4-6,4).
🤔 Você deve estar se perguntando: por que a atorvastatina?
Os autores propõem a hipótese de que a atorvastatina pode estar associada a redução do estresse oxidativo gerado pelas antraciclinas, principal mecanismo relacionado a cardiotoxicidade por essas drogas.
Apesar disso, são necessários outros estudos para elucidar se a atorvastatina teve um ação direta na redução da cardiotoxicidade ou se agiu em outras vias que preveniram a evolução com disfunção.
Sem dúvidas, já é um primeiro passo na prevenção das complicações associadas à quimioterapia.
Devemos ajustar a dose da apixabana para a função renal?
Revisão sistemática (Circulation)
FA + doença renal crônica (DRC) estágios IV e V: decisão desconfortável (para dizer o mínimo…).
A apixabana é uma boa opção de DOAC para estes pacientes, mas não sabemos ainda os efeitos da administração da dose reduzida para pacientes com DRC em estágios mais avançados.
Há uma divergência nas principais diretrizes quanto ao ajuste da dose para para 2,5 mg 2x/dia:
A sociedade americana, por meio do FDA, sugere o ajuste em pacientes com ≥ 2 dos seguintes critérios:
Idade ≥ 80 anos;
Cr ≥ 1,5 mg/ml;
Peso corporal ≤ 60 kg.
Já a sociedade europeia orienta o ajuste em qualquer paciente com ClCr 15-30 ml/min.
Assim, ficam as dúvidas: será que esse ajuste é benéfico e seguro? Ou melhor… mais seguro que a dose padrão?
Foi publicada no Circulation uma revisão da base de dados americana entre os anos de 2013-2021, que avaliou o risco de sangramento e de evolução com AVC nos pacientes com DRC estágio IV e V em uso de dose plena vs reduzida da apixabana.
Resultados:
4313 pacientes em uso recente de Apixabana, 1705 (40%) na dose de 5 mg 2x/dia e 2608 (60%) receberam 2,5 mg 2x/dia.
Houve menor ocorrência de sangramento no grupo 2,5mg: 4,9 vs 2,9 eventos para cada 100 pessoas-ano.
Mesma ocorrência de AVC e tromboembolismo (3,3 vs 3 eventos para cada 100 pessoas-ano) e óbito (9,9 versus 9,4 eventos para cada 100 pessoas-ano.).
Observou-se que pacientes em uso da dose de 5 mg 2x/dia, apesar de serem mais novos, de maior peso e com maior creatinina, apresentaram maiores taxas de sangramentos com a mesma incidência de AVC, embolia sistêmica ou morte.
Assim, este estudo reforça que o uso de 2,5mg 2x/dia de Apixabana em pacientes com DRC estágio IV e V.
Novidade no tratamento da obesidade
Ensaio clínico fase 2 (NEJM)
Mais uma DozeNews, e mais um avanço no tratamento da obesidade.
Sem dúvidas é a doença do século XXI, desempenhando um papel crucial como fator de risco para múltiplas condições cardiovasculares.
Recentemente, um novo agente terapêutico entrou em cena: o orforglipron, um agonista não peptídico do receptor GLP-1.
Em um ensaio clínico fase 2, randomizado e duplo-cego, publicado no NEJM, adultos obesos (ou com sobrepeso associado a pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso) foram submetidos ao tratamento com orforglipron em diferentes dosagens (12, 24, 36, ou 45 mg) ou placebo por 36 semanas.
Os principais desfechos foram a variação percentual do peso corporal na 26ª e 36ª semana.
Os resultados foram animadores:
Entre os participantes tratados com orforglipron, 46 a 75% alcançaram uma redução de peso de pelo menos 10% até a 36ª semana, comparado a apenas 9% no grupo placebo.
Os eventos adversos mais frequentes foram gastrointestinais, predominantemente leves a moderados. Estes eventos ocorreram principalmente durante a escalada de dose e levaram à descontinuação do orforglipron em 10 a 17% dos participantes, dependendo da dosagem.
Agora é seguir pra fase 3 e confirmar o potencial de impacto positivo dessa nova opção terapêutica na redução de eventos cardiovasculares!
Mais uma arma no combate ao tabagismo
Caiu na Mídia
O jornal Folha de São Paulo, trouxe, essa semana, uma interessante matéria sobre uma nova droga para auxiliar na interrupção do tabagismo: a citisiniclina.
Essa medicação, cujo ensaio clínico randomizado com resultados positivos foi publicado em julho no JAMA, age nos receptores neuronais de nicotina, reduzindo o prazer ao tragar e a sensação de abstinência.
O estudo, que incluiu 810 pacientes, demonstrou boa manutenção da abstinência quando comparada ao placebo (25,3% vs 4,4% nas semanas 3-6; e 8,9% vs 2,6% nas semanas 6-24). Os principais efeitos colaterais foram náuseas, sonos anormais e insônia, que acometeram menos de 10% dos pacientes.
Dessa forma, vem com força como alternativa à velha vareniclina (o famoso Champix), retirado do mercado há alguns meses pela Pfizer.
‼️ Dica Dozer:
No episódio #97 do DozeCast discutimos as estratégias de interrupção do tabagismo com a participação do Dr. Márcio Souza.
Imagem da Semana
Paciente do sexo feminino, de 45 anos e usuária de drogas ilícitas (cocaína). Foi admitida com um IAM sem supra! Cate demonstrou essa trombose extensa da DA e DG1, além de ectasias e ponte miocárdica.
Fique por dentro
👶🏻 Mais uma revisão do JACC em combo, dessa vez sobre as arritmias ventriculares em adultos com cardiopatias congênitas, divida em parte 1 e parte 2.
🧮 Estudo brasileiro demonstrou que o uso do escore de risco ADHERE foi capaz de discriminar pacientes com pior prognóstico em internação com IC descompensada.
💊 Revisão no EHJ sobre os mecanismos de ação dos iSGLT2 em na ICfep.
💻 Publicado modelo totalmente automatizado de identificação de riscos pré-TAVI na avaliação da angioTC.
🦀 Recorrência de TVP após suspensão de anticoagulação em pacientes com câncer: alta taxa de recorrência.