Hora de fingir felicidade com as novas diretrizes
ESC Guidelines
Sempre que saem diretrizes novas ficamos com aquele sentimento dicotômico: ao mesmo tempo que estamos curiosos e sedentos pelas atualizações, imediatamente nos sentimos mal, 100% desatualizados e com uma preguicinha de ler aquelas muuuitas páginas.
Vamos tentar ajudá-los listando o que cada uma trouxe de novidades para você não se sentir tão por fora:
🫀 Diretriz sobre avaliação e manejo cardiovascular no pré-operatório
Novo fluxograma de avaliação pré-op;
Sessão sobre a perspectiva do paciente;
Foco na avaliação de fragilidade;
Antiplaquetários e peri-operatório (falamos muito disso no DozeCast da semana passada);
Para quem seriar troponina?
Uma sessão única para pacientes com COVID recente.
O link para a diretriz completa está aqui.
🫁 Diretriz sobre o diagnóstico e tratamento da hipertensão pulmonar
Atualização nas definições de HP;
Atualização na classificação (na verdade, reclassificação de algumas doenças);
Novo algoritmo diagnóstico;
Modificação no algoritmo de tratamento.
⚡️ Diretriz sobre arritmias ventriculares e morte súbita:
Complementação do diagnóstico com testes provocativos;
Cenários de investigação de arritmia ventricular em paciente sem doença cardíaca conhecida;
Atualização nas recomendações sobre o CDI;
Manejo específico de cada doença relacionada à morte súbita cardíaca.
🦀 Diretriz sobre cardio-oncologia:
Estratificação de risco de toxicidade antes da terapia;
Prevenção de complicações com as terapias oncológicas;
Manejo da toxicidade;
Complicações a longo prazo.
Segue o link da última diretriz do congresso.
Nos próximos meses, no DozeCast, revisaremos com detalhes, junto de ilustres convidados, cada uma delas. Fica de olho!! 👀
Trials, trials e mais trials
É trial que você quer? Então toma! Os europeus não estavam de brincadeira no quesito lançamento de grandes trials nesse congresso.
E ainda vamos ficar na dívida dos trials que serão apresentados hoje. (Acompanhe o insta pra não perder nada, rs)
Mas vamos listar aqui os principais, para que você não se sinta por fora nas discussões no hospital sobre as novidades.
Primeiro dia:
No D1 do congresso, os motores estavam apenas aquecendo: os estudos foram mais modestos.
Vale destaque para o TIME TRIAL, que avaliou se a prescrição de anti-hipertensivos à noite reduziria eventos cardiovasculares. Após 5 anos de seguimento, não houve diferença no desfecho primário composto por MACE. No entanto, também não demonstrou malefícios com aumento de quedas e/ou fraturas.
Ou seja, tanto faz: prescreva no horário que o seu paciente tiver melhor adesão.
Por falar em adesão, o outro destaque do dia vai para o SECURE Trial. Esse estudo avaliou se a prescrição de polipílula composta por AAS + Ramipril + Atorvastatina vs tratamento habitual traria redução de desfechos em pacientes pós-IAM. Após seguimento por 3 anos, demonstrou benefício, reduzindo eventos em 3,2%.
Além desses, ainda foi lançado o PERSPECTIVE Trial, que demonstrou segurança do uso do sacubitril-valsartana, sem associação com piora de função cognitiva.
Segundo dia:
Agora sim o negócio esquentou! Nesse dia foram lançados 2 dos estudos mais aguardados do evento (podemos dizer até que do ano!).
Primeiro o REVIVED Trial, ou como gostamos de chamar: o STICH da angioplastia. Isso porque o objetivo foi avaliar se a revascularização percutânea traria redução de morte por qualquer causa ou hospitalizações por IC em pacientes com cardiopatia isquêmica.
Incluíram pacientes com FEVE ≤ 35% com viabilidade em pelo menos 4 segmentos, randomizados para ATC ou tratamento medicamentoso otimizado, e foram seguidos por 3,4 anos.
No fim, o grande “aaaaahhh” de decepção do público, ao perceber que não houve diferença entre os grupos (por que choras, hemodinamicista?).
O principal ponto a ser observado aqui é que essa diferença para o STICH (que demonstrou benefício com a revascularização cirúrgica após seguimento de 10 anos), nos leva a pensar que o tratamento medicamentoso evoluiu tão bem que, a médio prazo, se equivale à intervenção.
Até os comentaristas na mesa do congresso não acreditam que esse estudo seja capaz de mudar a indicação atual em diretrizes, mas já traz o alerta para a necessidade de mais estudos.
O outro estudo que deu o que falar foi o DELIVER Trial, que, de fato, entregou tudo (desculpem-nos, a piada estava pronta).
Esse, por sua vez, foi o EMPEROR-Preserved de 2022. Ou seja, tentou demonstrar benefício em morte cardiovascular ou piora da IC com uso do inibidor de SGLT2 em pacientes com FEVE > 40%.
Foram mais de 6000 pacientes que randomizados para Dapaglifozina 10 mg/dia ou Placebo.
Ao fim do seguimento de 2,3 anos, demonstraram redução em 18% do desfecho primário. Mas calma lá, os resultados foram às custas de redução da piora da IC, não tendo significância para mortalidade isoladamente.
O dia ainda nos trouxe:
ADVOR Trial: benefício da acetazolamida na IC descompensada;
DANFLU Trial: segurança cardiovascular do uso de dose aumentada da vacina contra Influenza em idosos, com redução de hospitalizações por pneumonia;
ALL-HEART Trial: não demonstrou utilidade no uso do alopurinol em pacientes com cardiopatia isquêmica;
DANCAVAS Trial: estudo populacional dinamarquês que não demonstrou benefício no screening de doenças cardiovasculares.
Terceiro Dia:
Nesse dia, foi apresentado o estudo que tem maior potencial para mudar nossa prática clínica: o INVICTUS Trial.
Esse foi um estudo de não-inferioridade para comparar o uso da Rivaroxabana vs Marevan em pacientes com FA secundária a valvopatia reumática.
Vitoria da galera old school: o marevan demonstrou redução do desfecho primário composto por AVC, tromboembolismo, IAM ou morte, sem aumentar risco de sangramentos maiores!
Além dele, também foram importantes:
FRAME-AMI Trial: demonstrou benefício do uso do FFR para guiar a angioplastia de lesões não-culpadas em pacientes pós-IAM com DAC multiarterial.
eBRAVE-AF Trial: o uso dos smartphones para dianóstico de fibrilação atrial dobrou o diagnóstico e tratamento dessa arritmia em idosos.
Fun Facts - ESC 2022
Caiu na mídia tá diferente
Não é bem um Caiu na Mídia, perdoem-nos. Mas tem coisas na vida que precisam ser compartilhadas. Por isso, resolvemos trazer alguns fun facts sobre o congresso, para quebrar o vidro de tudo aquilo que achamos que um dos maiores congressos do mundo seria.
1. Os europeus não sentem fome?
Sabe todas aquelas comidinhas e brindes que estamos acostumados nos nossos congressos nacionais e regionais? Então, nem espere isso por lá. Parece que o pessoal vem realmente estudar (!!!).
Nos estandes só café (e olhe lá), nada de lunch box com Pizza Hut ou McDonalds nas palestras do almoço.
É pessoal, rolou uma decepção aqui.
2. Cadê o glamour?
Você compra roupa nova, salto, blazer, gravata. Acha que vai vir lindo(a) e vai abalar.
Aí, no primeiro minuto, descobre que o lugar é enorme e você precisa caminhar uma enormidade de um auditório ao outro. Sem contar no calor, já que o ar condicionado local não estava dando muito vencimento para o calor de Barcelona.
Resultado: no segundo dia você já abre mão de todo o glamour, coloca o tênis, uma camisa mais leve, e só vai.
3. A reação do público aos trials é hilária.
Você achava que esses gringos ficariam todos contidos e não fariam comentários?
Precisa ver a reação do público aos resultados dos principais Trials: parecia que estávamos no lançamento de um filme da Marvel ou na final de um campeonato de futebol. Sensacional rsrs.
Apesar de tudo isso, a experiência é única. Se você gosta de congressos e pesquisas, já vai juntando o dinheiro com uns plantõezinhos (muitos) que vale a pena!
Imagem da Semana
Nessa semana vamos de miocárdio hipertrofiado novamente, com essa bela janela apical 4 câmaras. Reparem o ventrículo direito poupado, o ventrículo esquerdo todo acometido e um lindo movimento anterior sistólico da valva mitral (o famoso SAM).
Fique por dentro
🧠 Qual a lógica de prevenir AVC em pacientes sem fibrilação atrial? Essa grande coorte publicada no EHJ sugere que uso de um score baseado em AVC prévio, diabetes insulinodependente e NT-ProBNP em pacientes com ICFER pode ajudar a identificar possíveis pacientes para anticoagulação, mesmo sem FA.
⛓ Para hemodinamicistas e / ou apaixonados pelas válvulas: o foco da semana na JACC Cardiovascular Interventions foi sobre o uso do MitraClip na IM secundária causada por dilatação do anel atrial, com bons resultados.
🧈 A força tarefa de prevenção cardiovascular norte-americana publicou uma nova recomendação sobre uso das estatinas na prevenção primária, com algumas mudanças de recomendações. Clique aqui para checar ou aguarde o resumo nas plataformas da Doze nas próximas semanas rsrs.
💉 Doenças autoimunes aumentam risco cardiovascular? Essa coorte britânica publicada no The Lancet, identificou um hazard ratio de 1.56, quando comparado com a população geral.
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