Na edição de hoje:
💊 Carvedilol e Candesartana não reduziram cardiotoxicidade por antraciclinas em pacientes de risco.
🚁 Drones com DEA testados e publicados na Suécia em coorte prospectiva.
💻 Metanálise brasileira demonstrou que a angiotomografia de coronárias na DAC estável reduziu a necessidade de cateterismo em 77% do casos.
Poderiam carvedilol e candesartana evitar a cardiotoxicidade das antraciclinas?
Ensaio Clínico Randomizado
A luta contra a cardiotoxicidade induzida por antraciclina ganhou um novo capítulo com um estudo focado em avaliar um possível benefício com uso de carvedilol e candesartana.
Este estudo pioneiro envolveu pacientes com câncer de mama e linfoma não-Hodgkin, e eram randomizados se apresentassem níveis de troponina elevados (classificados como alto risco para desenvolver cardiotoxicidade).
Na pesquisa foram avaliados 175 pacientes, empregando testes de ressonância magnética para investigar o potencial da terapia combinada de carvedilol e candesartan na proteção cardíaca.
Após 6 meses, a FEVE médio foi de 65.7±6.6% no grupo de cardioproteção e 64.9±5.9% no grupo de cuidado padrão.
💡 Implicações: os resultados desafiam as noções atuais sobre a eficácia das terapias cardioprotetoras.
A ausência de um benefício significativo da combinação de candesartan e carvedilol em pacientes de alto risco sugere a necessidade de repensar as estratégias de proteção cardíaca em tratamentos oncológicos.
Drones versus ambulâncias
Estudo observacional prospectivo
“Parada cardíaca!” “Ligue para os drones-defibrillators já!”
Drones suecos equipados com DEA (drones-DEA) foram testados almejando a entrega do delivery (desfibrilador) antes da chegada da ambulância em suspeitas de PCR extrahospitalar.
O estudo sueco, observacional e prospectivo, acompanhou a atuação de 4 drones-DEA, em um espaço aéreo envolvendo uma população de 200.000 habitantes, durante o período de Abril de 2021 a Maio de 2022.
O objetivo principal era verificar em quantos casos o DEA foi entregue antes da chegada da ambulância e a diferença de tempo entre eles.
Outros desfechos exploratórios:
Colocação das pás do DEA antes da chegada da ambulância.
Desfibrilação antes da chegada na ambulância.
🚑 Resultados: em primeiro lugar não houve relato de nenhum adverso resultante da viagem dos drone-DEA.
211 suspeitas de PCR ocorreram;
Em 72 casos, os drones-DEA foram enviados. Destes:
Em 58 (81%), os drones entregaram o DEA com sucesso;
Na maior parte dos que não foram entregues o motivo foi cancelamento por não se tratar de uma PCR;
Em 67% dos casos o drone-DEA chegou antes da ambulância, chegando em média 3min14seg antes.
18 casos foram confirmados com PCR extrahospitalar
Em 2 casos de primeiro ritmo chocável, os pacientes foram desfibrilados antes da chegada da ambulância.
Como demonstrado nos resultados, ocorreu a primeira experiência de um paciente paciente drone-salvo. 🚁
Mas será que vale a pena do ponto de vista de população?
Muito temos a explorar a esse respeito: custos, benefício clínico, segurança, aplicabilidade em distintos cenários. Mas, com uma população bem orientada, pode ser uma ajuda muito bem-vinda.
Qual método de imagem escolher?
Metanálise
Uma das qualidades de um bom médico é conhecer todos os recursos diagnósticos que tem à disposição e saber solicitá-lo da forma correta.
A velha história do “quem não sabe o que procura, não identifica o que acha”.
Temos acompanhado o crescimento do papel da angiotomografia de coronárias (angioTC) no diagnóstico da DAC.
No ano passado, o trial DISCHARGE demonstrou não-inferioridade desse método em comparação ao cateterismo na investigação de pacientes com probabilidade intermediária de DAC.
Essa semana, foi publicado no Circulation: Cardiovascular Imaging uma metanálise que comparou o uso da angioTC vs o cateterismo como primeiro exame na investigação de DAC.
🇧🇷 Esse estudo tem as cores verde e amarela: encabeçado pelos brasileiros Rhanderson Cardoso, do Brigham and Women’s Hospital, e Marcio Bittencourt, da Universidade de Pittsburgh.
A revisão incluiu 5 ensaios clínicos randomizados, totalizando 5727 pacientes, desses quase 1/4 com teste funcional positivo e a grande maioria sintomáticos.
Apresentou alguns resultados interessantes:
Não houve diferença entre as duas estratégias quanto a mortalidade cardiovascular, eventos cardíacos maiores, infarto não-fatal e hospitalização por IC.
A realização de angioTC evitou a necessidade do cateterismo em 77% do casos.
Pacientes primeiro submetidos a angioTC tiveram menor taxa de revascularização coronária e AVC.
Esse é mais um estudo a nos dar segurança do uso da angioTC na investigação inicial de DAC.
Não existe o “certo ou errado” na investigação da DAC. O que você precisa é conhecer os pontos fortes de cada um dos métodos, e aquilo que você quer procurar no seu paciente, para assim indicar o exame mais adequado.
#Dica Dozer: temos uma edição da DozeNews Prime na qual discutimos a investigação de DAC crônica, para auxiliar o seu dia a dia ambulatorial. Não deixe de conferir!
A máfia dos opioides
Caiu na Mídia
Está em alta no Netflix o filme Máfia da Dor (Pain Hustlers), estrelado por Chris Evans (o eterno Capitão América) e Emily Blunt (a Mary Poppins moderna).
O filme retrata a crise dos opioides nos Estudos Unidos. Nele, a empresa Zanna cresce a partir da comercialização do medicamento Lonafin, uma formulação de fentanil em spray, de rápida absorção.
Esses nomes, na realidade, representam a história real do medicamento Subsys, cuja fabricante foi condenada por subornar médicos para prescrever a medicação off label (indo além da recomendação da FDA do seu uso para pacientes oncológicos), o que resultou em dependência e mortes por overdose.
Sem dar muitos spoilers, mas chama atenção uma cena na parte final do filme, na qual o médico responsável pelos estudos de segurança da droga é questionado sobre os relatos de morte por overdose e dependência, quando as análises iniciais relatavam esses efeitos adversos em apenas 1% da população.
O mesmo responde que o estudo original incluiu apenas pacientes oncológicos em estágio avançado, que obtinham bom controle da dor com a medicação, e, por sua curta sobrevida, não usavam tempo suficiente para desenvolver essas complicações.
Para nós, fica essa importante lição: nunca acreditar cegamente em ensaios clínicos e nem prescrever de forma desenfreada medicações, sem antes conhecer mais ao fundo o estudo e avaliar se a amostra incluída é representativa dos nossos pacientes na vida real.
Imagem da Semana
Ressonância magnética cardíaca de paciente em investigação de arritmias ventriculares frequentes, com imagem na sequência em realce tardio ao gadolínio com padrão em Ring Like (≥ três segmentos contíguos com realce tardio subepicárdico e/ou mesocárdico no mesmo corte).
Esse achado, que vem sendo associado a maior risco de eventos arrítmicos graves em pacientes com miocardiopatia dilatada, pode ser observado em cardiopatias por alterações genéticas, como da lamina A/C e da desmoplaquina.
Fique por dentro
5️⃣ Resultados do seguimento de 5 anos do PARTNER 3: não houve diferença em eventos nos pacientes de baixo risco cirúrgico submetidos a TAVI vs cirurgia valvar.
🙈Grande coorte publicada no JAMA demonstrou maior mortalidade em pacientes com IAMcSST secundário a MINOCA do que a coronariopatia obstrutiva.
🩸 AFNOR trial: anticoagulação em pacientes com CHADS-Vasc = 1 parece mostrar benefícios.
📆 DVT trial: TVP distal provando que merece ser anticoagulada com respeito! Benefício da anticoagulação oral por 12 meses em comparação com 3 meses.