Escore (pré)-HEART
Triagem de risco no IAMSSST logo na ambulância e um plot-twist na cardiologia
Na edição de hoje:
🫀 Tafamidis com benefício evidenciado em parâmetros ecocardiográficos em pacientes com amiloidose ATTR;
🍞 Dietas low-carb ou cetogênicas podem reduzir Lp(a);
🚑 Escore HEART pré-hospitalar melhorou fluxos hospitalares
Tafamidis, nosso herói no controle da amiloidose
Subanálise estudo ATTR-ACT (JAMA)
Quem leu a recente DozeNews Prime sobre Amiloidose sabe: o tratamento da cardiopatia amiloidótica da forma transtirretina (ATTR) tem nome, e é tafamidis.
Após os resultados do estudo ATTR-ACT, o tafamidis é liberado pela ANVISA na dose de 80 mg/dia para tratamento da ATTR em CF NYHA I-III, sem disfunção renal, preferencialmente nas fases iniciais da doença.
Nesse estudo, o uso do estabilizador de tetrâmeros reduziu de forma significativa o desfecho composto por morte e hospitalização por IC nos pacientes com ATTR.
Assim, comprovado o benefício clínico, foi feita uma análise post hoc dos resultados do ATTR-ACT para avaliar os efeitos nos parâmetros ecocardiográficos do uso dessa medicação.
Foram 436 pacientes com ATTR previamente randomizados para receber tafamidis vs placebo, e que tinham seguimento ecocardiográfico por um período de 30 meses.
O uso da medicação reduziu a progressão da piora da função cardíaca, baseada em 4 parâmetros ecocardiográficos: volume sistólico do VE (95% IC, 2,55-11,49; P = 0,002); strain longitudinal global do VE (95% IC −1,73 a −0,31; P = 0.005); relação E/e′ septal (95% IC, −5,50 a −0,72; P = 0,01); relação E/e′ lateral (95% IC, −4,01 a −0,69; P = 0,006).
Se já tínhamos boa evidência do benefício clínico do uso do tafamidis no controle da ATTR nas fases iniciais, agora mais um vitória dessa medicação a partir de parâmetros morfofuncionais.
Plot twist na cardiologia: dieta low carb ou cetogênica para otimizar níveis de Lp(a)
Artigo de revisão (EHJ)
Já sabemos que a lipoproteína(a) - Lp(a) - é um fator de risco documentado para doença cardiovascular aterosclerótica (ASCVD), independente do LDL-C.
Altos níveis de Lp(a) aumentam o risco de mortalidade geral e cardiovascular na população geral e em pacientes com ASCVD.
O maior desafio em termos de controle desse fator de risco é que praticamente 90% dos seus níveis são determinados geneticamente.
No entanto, uma esperança surgiu a partir de uma recente revisão publicada no EHJ, na qual observou-se que dietas low carb ou cetogênicas, ricas em gorduras saturadas, poderiam reduzir a concentração de Lp(a) em cerca de 15%, além do benefício adicional de redução da resistência à insulina, triglicerídeos e aumento do colesterol HDL e adiponectina.
Isso quer dizer então que essas dietas deveriam ser recomendadas para todos os pacientes com Lp(a) elevada? Muita calma nessa hora!
Precisamos também avaliar os efeitos negativos dessas dietas:
O uso de dietas cetogênicas aumentou significativamente o colesterol total, LDL-C e apoB.
Estudos evidenciaram que a adesão a uma dieta low carb esteve associada a um maior risco de mortalidade por todas as causas, doenças isquêmicas do coração, doenças cerebrovasculares e câncer!
E agora Doze? O que fazer?
A mensagem final que fica é que dietas low carb ou cetogênicas podem ser benéficas para pacientes com obesidade, diabetes, síndrome metabólica ou epilepsia refratária. No entanto, NÃO é recomendado como parte de um estilo de vida para pessoas saudáveis!
Por fim, até o momento, os dados são insuficientes para recomendar o uso dessas dietas em pessoas com elevada concentração de Lp(a), especialmente devido ao risco de eventos cardiovasculares e morte.
Escore de avaliação pré-hospitalar no IAMsSST
Coorte (HEART)
Uma das grandes dificuldades no infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMsSST) é estimar o seu risco e direcionar de forma correta o paciente.
É ainda pior no contexto pré-hospitalar.
Dessa forma um estudo publicado na revista HEART avaliou o benefício da estratificação de risco pré-hospitalar e da transferência direta para um centro de intervenção coronária percutânea (ICP), com base na pontuação pré-HEART (história clínica, ECG, idade, fatores de risco e troponina point-of-care).
Foi um estudo prospectivo e multicêntrico, que incluiu 1069 pacientes atendidos no contexto pré-hospitalar com suspeita de síndrome coronariana aguda.
Nele, parte dos pacientes seguiu o tratamento habitual, e outra parte foi estratificada por meio do escore pré-HEART para daí decidir se seriam transferidos para centros com ICP ou não.
Os pacientes avaliados pelo escore tiveram menor tempo para o diagnóstico e/ou revascularização, e também internação hospitalar mais curta.
Dessa forma, demonstraram que o uso do velho conhecido escore HEART adaptado para o contexto pré-hospitalar pode ajudar na avaliação e melhor direcionamento dos pacientes com suspeita de IAMsSST.
Agora queremos sinceridade:
Urucum no combate à esteatose hepática
Caiu na Mídia
Dos mesmos criadores de “água com limão baixa a pressão arterial” e “cebola roxa e limão no tratamento da hiperglicemia”, veio aí o urucum para tratar esteatose hepática?
Parece até mais uma dessas fake news que surgem por aí rs.
Mas, com o urucum é diferente: há embasamento científico. Um grupo de pesquisadores da Unicamp desenvolveu um comprimido à base do óleo da semente dessa fruta que promete reduzir os níveis de gordura no fígado.
Os primeiros passos foram dados: realizou-se um estudo com animais obesos, para os quais era feita uma dieta hiperlipídica, e posteriormente era administrado para parte deles o óleo da semente do urucum.
Os animais que receberam o óleo tiveram uma melhora na resposta nos parâmetros hepáticos em relação àqueles que não foram tratados.
Ainda estamos longe de qualquer conclusão útil para a prática clínica.
Quem sabe nos próximos anos teremos mais estudos desvendando melhor os benefícios dessa fruta?
Imagem da Semana

Você já viu um CDI subcutâneo? Observe o gerador posicionado no flanco esquerdo sob o grande dorsal; enquanto o eletrodo caminha pelo tecido subcutâneo até o esterno e sobe em paralelo a este osso. O grande benefício é que ele não ocupa o espaço intravascular do paciente, reduzindo o risco de endocardite e lesões cardíacas.
Alguns estudos já demonstraram a eficácia e segurança dessa metodologia. Um interessante artigo do Dr Bruno Valdigem ao MedScape Brasil resume bem as evidências dessa terapêutica.
Fique por dentro
🪈 Insuficiência tricúspide associada a dispositivos implantáveis? Estado-da-arte do EHJ tira todas as dúvidas sobre o tema.
❤️🔥 Estado-da-arte do JACC sobre o uso dos diversos métodos de imagem no diagnóstico e seguimento da amiloidose transtirretina.
🧬 Síndromes genéticas e as cardiopatias congênitas: olhe essa bela revisão do HEART.
🪴 Grande coorte publicada no JAMA demonstrou que o uso de terapia antiplaquetária pode ser capaz de reduzir a progressão do aneurisma de aorta abdominal.
⚡ Revisão do Circulation sobre o manejo da síndrome de Brugada.