Uma luz no fim do túnel das 4,5h
Ensaio clínico randomizado (NEJM)
Uma esperança além da trombectomia. Um estudo chinês demonstrou um possível benefício da trombólise nos pacientes com acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) que chegam após 4h30min do ictus do evento!
O estudo TRACE III, publicado no NEJM, avaliou a redução de incapacidades por meio da trombólise com Tenecteplase em pacientes com AVCi entre 4h30min e 24 horas do início dos sintomas.
O estudo:
Foram incluídos pacientes com AVC com oclusão de artéria cerebral média ou carótida (dito, de grandes vasos) com imagem de perfusão compatível com área viável e sem acesso a trombectomia mecânica.
Randomização: 0,25mg/kg (máx. 25mg) de tenecteplase vs tratamento clínico padrão.
O desfecho primário avaliado foi ausência de incapacidade (escala de Rankin 0-1) após 90 dias.
Dito isto, vamos aos resultados:
Foram 516 pacientes randomizados: 264 no grupo TNK vs 252 no grupo da terapia padrão.
Observou-se um aumento no número de pacientes com pouca ou sem sequelas no grupo TNK 33% vs 24,2% Clínico (RR 1,37; 95%IC: 1,04-1,81; P=0,03);
Não houve diferença quanto a mortalidade em 90 dias (13,3% TNK vs 13,1% tratamento padrão);
Uma maior ocorrência em sangramento intracraniano sintomático após 72h (3% TNK vs 0,8% tratamento padrão).
É claro que já temos a opção da trombectomia para estender a chance destes pacientes serem reperfundidos e saírem sem sequelas. Porém sua disponibilidade ainda é limitada.
Este estudo propõe a redução de eventos incapacitantes com a trombólise química às custas de aumento de sangramento, sem acarretar maior risco de morte.
Parece interessante para o cenário sino-brasileiro, e, talvez, com uma seleção adequada de pacientes com menor risco hemorrágico.
O que a Terra sofre, nosso coração sente!
Revisão Sistemática (JAMA)
É isso mesmo, Dozer!
Cada vez mais a ciência vem demonstrando que a saúde individual e comunitária depende diretamente da saúde planetária!
Uma revisão sistemática que analisou 492 estudos observacionais revelou que a exposição a estressores ambientais relacionados às mudanças climáticas, como temperaturas extremas e furacões, está fortemente associada ao aumento na morbidade e mortalidade por DCV.
Os dados foram obtidos a partir de 182 estudos sobre temperaturas extremas, 210 sobre ozônio ao nível do solo, 45 sobre fumaça de incêndios florestais e 63 sobre eventos climáticos extremos.
E quais foram os highlights?
Evidência suficiente para associar temperaturas extremas, ozônio ao nível do solo e eventos climáticos como furacões e tempestades de poeira a desfechos cardiovasculares adversos.
Evidência limitada para a fumaça de incêndios florestais e inadequada para secas e deslizamentos de terra.
A exposição a temperaturas extremas está ligada ao aumento na mortalidade e morbidade cardiovascular.
Eventos climáticos extremos, como furacões, apresentam risco cardiovascular elevado que pode persistir por meses.
Fica evidente que estressores ambientais relacionados às mudanças climáticas representam um risco crescente para a saúde cardiovascular, especialmente para populações vulneráveis.
É imperativo agir rapidamente para mitigar esses riscos e proteger a saúde cardiovascular global.
Devemos intensificar os esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e desenvolver estratégias específicas para mitigar os impactos das mudanças climáticas, focando principalmente nas populações mais vulneráveis e fortalecendo a resiliência das comunidades e sistemas de saúde.
A gliflozinas entram na luta contra a amiloidose
Coorte (JACC)
Mais alguém também está “cansado” de falar sobre os inibidores da SGLT2? rs
Pode até soar repetitivo, mas é por um bom motivo: o seu papel na cardiologia está cada vez mais consolidado, especialmente no obscuro mundo da IC FEP.
E nesse contexto, descobrimos o seu benefício em mais um aspecto: dessa vez a segurança e eficácia na redução de sintomas nos pacientes com amiloidose transtirretina (ATTR).
Um estudo publicado no JACC analisou 2.356 pacientes com ATTR-CM, dos quais 260 receberam tratamento com inibidores SGLT2.
Os resultados? Impressionantes!
O tratamento não apenas foi bem tolerado, com uma baixa taxa de descontinuação de apenas 4,5%, mas também mostrou uma associação com menos piora da classe funcional da insuficiência cardíaca, melhor controle dos níveis de peptídeo natriurético tipo B e uma taxa de mortalidade geral reduzida, no seguimento de 12 meses.
Durante o acompanhamento médio de 28 meses, aqueles tratados com SGLT2 tiveram uma redução significativa no risco de hospitalização por insuficiência cardíaca e mortalidade cardiovascular, comparado aos que não receberam este tratamento.
Apesar de trazer uma luz no fim do túnel no tratamento principalmente dos sintomas da amiloidose, muita calma antes de querer prescrever gliflozina para todo paciente com ATTR.
Como destacado no interessante editorial publicado em conjunto, esse foi um estudo de coorte com um n pequeno de pacientes que fizeram uso da droga (apenas 260) e que se utilizou de propensity matching para análise mais fidedigna. Em outras palavras: o seu benefício pode ter sido superestimado.
Dá mesmo para achar que os resultados de benefício dos iSGLT2 na ATTR são tão inquestionáveis assim, se nem na IC FEP os estudos DELIVER e EMPEROR-PRESERVED obtiveram resultados em redução de morte cardiovascular?
De qualquer forma, o primeiro passo foi dado. Agora é esperar estudos mais robustos que possam confirmar o benefício dessas drogas na complexa ATTR.
Seu paciente tem bendopneia?
Caiu na Mídia
Alô rato da semiologia, você testa a bendopneia nos seus pacientes com insuficiência cardíaca (IC)?
O Medscape trouxe uma interessante revisão sobre a utilidade desse sinal semiológico na avaliação dos pacientes com IC.
Tudo começou há 10 anos, quando foi publicado no JACC: Heart Failure um estudo com 104 pacientes com IC FER, que relacionou a presença da bendopneia a piores parâmetros hemodinâmicos no cateterismo direito.
Meio esquecida nesse período, a bendopneia voltou aos holofotes essa semana. Foi publicado no EHJ um estudou que demonstrou que, apesar de raro (presente em apenas 2,5%-4,4% dos pacientes com IC) esse achado semiológico aumentou em 2x o risco de mortalidade por todas as causas em 2 grandes coortes (FRAGILE-HF e SONIC-HF).
🤔 E como realizar esse teste?
Em posição sentado, o paciente deve inclinar o tronco para frente (como se fosse calçar um sapato). Caso ele não tolere permanecer nessa posição por pelo menos 30 segundos sob queixa de dispneia, é feito o diagnóstico da bendopneia.
A hipótese para essa relação entre eventos cardiovasculares e a bendopneia é de que essa posição leva aumento adicional nas pressões de enchimento durante a flexão quando as pressões de enchimento (que já são altas nesses pacientes), com consequente desconforto respiratório.
Fica aí a dica de um sinal fácil de testar e com significativa significância em prognóstico para os pacientes com IC.
Desafio da Semana
A imagem da semana é essa angiotomografia de tórax para avaliação de um paciente pré-TAVI.
Outras interessantes publicações da semana
🧠 Uma melhor opção à alteplase no AVC isquêmico? O estudo RAISE, publicado no NEJM, demonstrou melhores resultados com o reteplase quando comparado ao alteplase.
🤖 Mais uma semana e mais artigos sobre a inteligência artificial na medicina. Dessa vez o JACC publicou 2 interessantes estados-da-arte: parte 1 e parte 2.
💊 RESPECT EPA: ácido eicosapentanoico associado a estatina não apresentou redução de desfechos.
⚡ Avaliação do ritmo em pacientes saudáveis pode ser importante para determinar o risco de parada cardíaca extrahospitalar com IA.
🎯 Metanálise sugere que terapias para controle do colesterol podem ajudar a reduzir a chance de tromboembolismo venoso.
🫀 Pacientes com IC de novo podem apresentar melhora da função ventricular até 180 dias após início da terapia.
💊 Balde de água fria aos amantes da colchicina: estudo não mostrou diferenças em desfechos cardiovasculares em pacientes com AVC não cardioembólico.
🦿 Alô vasculares! Nova diretriz americana de doença arterial periférica.