Não deu para "reviver a viabilidade"
Subanálise do REVIVED, Aficamten e Olezarsen para Hipertrigliceridemia
Na edição de hoje:
🏋🏼 Aficamten com bons resultados no TCP de pacientes com miocardiopatia hipertrófica;
🦼 Subanálise do REVIVED avaliou se os resultados negativos do estudo poderiam ser relacionados à vascularização incompleta;
🧈 Olezarsen como boa opção para Hipertrigliceridemia.
Músculo na medida certa
Ensaio Clínico Randomizado (NEJM)
Poderia ser, mas essa não é uma campanha contra os uso de anabolizantes rs.
A luta dessa vez é outra: a hipertrofia do septo interventricular!
A miocardiopatia hipertrófica obstrutiva pode tornar-se sintomática e prejudicar o desempenho físico dos pacientes.
O método que mais tem crescido para melhorar a obstrução e seus sintomas é o uso de um inibidor seletivo da miosina cardíaca!
A ideia é que com uma contração menos abundante da região septal, podemos aliviar a obstrução. Esse é o mecanismo de ação do já consagrado Mavacamten (que tem uma indicação IIa nas última diretrizes para melhoria de sintomas), e também de uma nova droga que surge: o Aficamten.
Foi apresentado no último congresso da ESC Heart Failure e publicado em conjunto no NEJM o estudo SEQUOIA-HCM, que avaliou a melhora do VO2 pico no teste cardiopulmonar após 24 semanas do uso do Aficamten em pacientes com CMH obstrutiva sintomática.
Incluiu 282 pacientes randomizados para receber o aficamten em dose titulável de 5 a 20mg/dia ou placebo.
Vamos aos resultados:
Aumento do VO2 pico em 1,8 mL/kg/min (95% CI, 1,2 - 2,3) nos pacientes em uso do aficamten.
Todos os objetivos secundários (classe funcional, gradiente intraventricular, mudança de carga do teste cardiopulmonar, dentre outros…) apresentaram melhora, indicando boa repercussão clínica do medicamento.
Apesar de um incremento modesto no teste cardiopulmonar o aficamten apresentou resultados seguros e promissores.
Sua importância, por ora, parece ser a de aliviar sintomas relativos à obstrução da via de saída do VE. Para uma condição na qual as opções medicamentosas ainda são escassas, parece um avanço e tanto.
Balde de água fria nos amantes da viabilidade miocárdica
Subanálise REVIVED (JACC)
Será que a resposta para a ausência de benefício no REVIVED está no quão completa foram as revascularizações?
Para entender:
O estudo REVIVED, publicado em 2022, avaliou o benefício da revascularização percutânea em pacientes com cardiopatia isquêmica (FEVE <= 35%), multiarteriais e com viabilidade miocárdica em pelo menos 4 segmentos.
No entanto, após um seguimento médio de 3,8 anos, não houve diferença no desfecho primário entre o grupo submetido à intervenção e aqueles mantido em terapia médica otimizada.
Apesar da consistência do estudo, restou uma dúvida: será que a ausência de benefício clínica está relacionada ao fato da angioplastia ter falhado em atingir a revascularização completa do território viável?
Essa semana, foi publicado no JACC, um subanálise que objetivou sanar de uma vez por todas essas dúvidas.
Nela, foi avaliado tanto o quão completas foram as revascularizações por meio de índices de revascularização coronariana e miocárdica (RIcoro e RImyo, respectivamente), calculados com base no Jeopardy BCIS score (BCIS-JS) como também o número de segmentos viáveis revascularizados.
Vamos aos resultados:
Dos 700 pacientes randomizados, 670 foram incluídos na análise. Apesar das altas taxas de revascularização observadas (67% para RIcoro e 85% para RImyo), a análise mostrou que não houve diferença significativa nos resultados primários (morte ou hospitalização por insuficiência cardíaca) entre os grupos submetidos à revascularização completa (seja do ponto de vista coronário ou do território viável).
Está difícil te defender hein, viabilidade?? Se alguns estudos observacionais haviam demonstrado a importância da revascularização completa dos territórios viáveis, os resultados apresentados nesse estudo mostraram que esse não foi o problema no REVIVED.
Seguimos sem definições concretas quanto ao benefício da revascularização percutânea dos territórios viáveis, e de como encaixar esse conceito na nossa prática.
🎙Você, como um(a) Dozer assíduo(a), deve ter percebido que já falamos muito de viabilidade por aqui. Da última vez, conversamos com um dos maiores nomes nacionais sobre o tema:
Olezarsen: finalmente encontramos um bom tratamento para a hipertrigliceridemia?
Ensaio clínico fase 2b (NEJM)
A redução dos níveis de triglicerídeos (TGC) e lipoproteínas ricas em TGC continua sendo uma necessidade clínica crucial no manejo dos riscos cardiovasculares.
Se até então só dispomos de fácil acesso aos fibratos (e sua pouca evidência de benefício cardiovascular), surge uma nova opção: o olezarsen.
Se você acompanhou nossa cobertura do ACC 24, pode se lembrar desse nome.
Esse oligonucleotídeo antisense que mira o RNA mensageiro da apolipoproteína C-III (APOC3) tem se mostrado uma abordagem inovadora para essa redução, apresentado no estudo Bridge-TIMI 73a, publicado no NEJM.
Em um estudo clínico de fase 2b, controlado e randomizado, foram recrutados adultos com hipertrigliceridemia moderada (150 a 499 mg/dL) e risco cardiovascular elevado, ou com hipertrigliceridemia severa (≥ 500 mg/dL).
Os participantes foram divididos em duas coortes (50 mg e 80 mg) e receberam olezarsen subcutâneo mensalmente ou placebo, em uma proporção de 3:1.
As doses de 50 mg e 80 mg de olezarsen resultaram em reduções significativas nos níveis de TGC, com diminuições de 49,3% e 53,1%, respectivamente, em comparação ao placebo (P<0,001).
Além disso, houve reduções significativas nos níveis de APOC3, apolipoproteína B e colesterol não-HDL, sem alterações significativas no colesterol LDL.
E quanto aos eventos adversos? Foram semelhantes entre os grupos tratados com olezarsen e o grupo placebo.
Anormalidades hepáticas, renais ou plaquetárias clinicamente significativas foram raras e distribuídas de forma semelhante entre os grupos.
Os resultados deste estudo são promissores e indicam que o olezarsen pode ser uma ferramenta eficaz para reduzir os níveis de TGC, apolipoproteína B e colesterol não-HDL em pacientes com hipertrigliceridemia moderada e risco cardiovascular elevado.
Estamos ansiosos para acompanhar os desenvolvimentos futuros e os estudos adicionais que possam confirmar e expandir esses achados!
Zolpidem para dormir e venvanse para acordar?
Caiu na Mídia
Parece que esse ciclo sem fim não será mais tão fácil de ser aderido.
A Anvisa aprovou, essa semana, um aumento no controle da prescrição do medicamento Zolpidem, que passa a necessitar de receituário médico tipo B (o bom e velho bloquinho azul).
A ideia é realmente reduzir a sua prescrição, uma vez que é uma das medicações cujo consumo mais cresceu nos últimos anos:
Em 2018, a Anvisa estima que tenham sido vendidas 13,1 milhões de caixas de Zolpidem no Brasil. Já em 2022, a estimativa disparou para 21,9 milhões de caixas, um aumento de 67% nas vendas.
Vale aproveitar a “deixa” da Anvisa para destacar os efeitos adversos cardíacos descritos associados ao zolpidem, que incluem bradicardia, dor torácica, palpitações até eventos cardiovasculares mais raros.
No entanto, quando bem indicado, meta-análises já demonstraram redução do risco cardiovascular.
Assim, que possamos também auxiliar na redução do seu uso indiscriminado, reservando-o aos pacientes com indicação.
Imagem da Semana
✋🏼 First things first… A resposta do quiz da semana passada: cardiopatia chagásica.
Nem só de aneurisma em dedo de luva vive o paciente chagásico! Ao identificar acometimento inferior e inferolateral precisamos sempre lembrar da cardiopatia chagásica!
E agora, a imagem da semana:
Assustadora imagem de dissecção de aorta torácica ascendente ao cateterismo (o tipo de imagem que não deveria existir rs). Destacamos, ainda, o acometimento do óstio da CD pela dissecção que resultou em supra-ST e encaminhamento ao CATE.
Fique por dentro
🧠 Controle pré-hospitalar intensivo da PA não associou-se a melhores desfechos no AVC.
🥛 Desmistificando a calcificação coronária nos atletas: estudo publicado no JAMA não encontrou associação entre atividade física e aumento do escore de cálcio.
🩸 Subanálise do STOP-DAPT 3 demonstrou segurança na estratégia sem AAS até mesmo em lesões complexas.
🦵🏼 Doença arterial periférica? Sim, o cardiologista também precisa saber lidar com isso! E temos diretriz quentinha do ACC sobre o tema.
🩸 Meta-análise: TICO e T-PASS trials reforçam uso de Ticagrelor em monoterapia após curto período de DAPT na SCA.
📖 NOTION-2 trial: avaliação de pacientes com estenose aórtica de válvula bicúspide e tricúspide com baixo risco cirúrgico e menos de 75 anos. A dúvida permanece…
🔊 ECO beira leito exaltado! Estudo afirma que ECO beira leito pode fazer screening de febre reumática em populações de alta prevalência da doença.
⏱️ Marca-passo temporário após TAVI? Essa loucura pode ser uma opção para redução da indicação fútil de MP após o tratamento da estenose aórtica! Interessante estudo observacional.