Na edição de hoje:
🍒 Apical sparring: acurácia abaixo do esperado para diagnóstico de Amiloidose;
💊 Estudo de fase 2 no JACC demonstrando segurança do Ninerafaxstat para tratamento da CMH não obstrutiva.
🍽️ Ensaio randomizado sugeriu não haver diferença entre fazer ou não jejum antes do CATE.
Esse cherry on top está mais para cherry bomb
Estudo caso-controle (EHJ)
Um estudo publicado no European Heart Journal colocou à prova o benefício do uso apical sparing na suspeita de amiloidose cardíaca.
🍒 O apical sparing, carinhosamente apelidado de cherry on top (do inglês, a cereja do bolo) é um famoso marcador ecocardiográfico sugestivo de amiloidose cardíaca.
O menor acometimento da porção apical do ventrículo esquerdo na avaliação por meio do strain longitudinal, tornou-se amplamente conhecido e tem resultado em inúmeras suspeitas de cardiopatia amiloide.
Mas será que esse marcador é tão bom assim?
Um estudo que incluiu 544 pacientes com amiloidose cardíaca confirmada, 200 controles e 174 pacientes saudáveis submetidos a ecocardiograma transtorácico com avaliação de strain longitudinal procurou tirar essa dúvida.
Nele, notou-se que 32% do grupo controle e 6% dos pacientes saudáveis apresentavam o padrão de apical sparing (considerado por meio de um ponto de corte de 1,67 da relação entre a strain apical e das demais paredes).
Em uma matemática básica, você pode errar em 1/3 dos casos para o diagnóstico de amiloidose se confiar somente nesse marcador.
A sensibilidade também não foi tão boa assim: apenas de 72%.
Assim, o estudo mostra que não podemos nos prender a apenas um parâmetro ecocardiográfico para confirmar ou excluir a presença de uma doença tão traiçoeira como a amiloidose cardíaca.
O apical sparing deve ser agregado a outros achados de imagem e clínicos para seu melhor uso.
Uma energia extra na CMH não-obstrutiva
Estudo Fase 2 (JACC)
Quem está ligado na DozeNews acompanhou, nas últimas semanas, a confirmação do mavacamten como principal droga no tratamento da cardiomiopatia hipertrófica (CMH) obstrutiva, e a publicação de estudos com novas opções, como o aficamten.
No entanto, para o tratamento da CMH não-obstrutiva (CMHNO) as opções de tratamento não são tão variadas.
A diretriz do ACC/AHA de 2024 recomenda basicamente os beta-bloqueadores, BCC e diuréticos como opção medicamentosa para o tratamento de sintomas dispneia e angina nesse grupo de pacientes.
A deficiência energética do miocárdio é considerada uma causa potencial para os sintomas e limitações ao exercício enfrentados pelos pacientes com CMHNO.
Para o alívio de quem lida com essa condição desafiadora, vem surgindo um candidato a “mocinho”: Ninerafaxstat, um mitotrópico cardíaco promissor ao melhorar a energização cardíaca.
Foi publicado no JACC um estudo fase 2 que avaliou o benefício dessa medicação em pacientes com CMH e um gradiente de via de saída do VE < 30 mm Hg, FEVE ≥ 50%, e consumo máximo de oxigênio < 80% do previsto.
Os participantes da pesquisa foram randomizados para receber 200 mg de ninerafaxstat duas vezes ao dia ou placebo, durante 12 semanas. O desfecho primário foi a segurança e a tolerabilidade, enquanto os desfechos secundários incluíram a eficácia.
E os resultados?
A nova terapia medicamentosa direcionada à energização miocárdica mostrou-se segura, bem tolerada e associada a um melhor desempenho no exercício e estado de saúde em pacientes sintomaticamente mais limitados.
Este estudo traz uma nova esperança para o tratamento da CMHNO, destacando a importância da pesquisa contínua e do desenvolvimento de terapias inovadoras. Bora pra fase 3!
Adeus ao jejum pré-CATE
Ensaio Clínico Randomizado (JACC)
Esse veio para mudar sua prática clínica. E facilitar a vida dos nossos pacientes.
Estudo publicado no JACC Interventions decidiu, finalmente, colocar em pauta o tradicional jejum de 6 horas, ao compará-lo com a ausência total de jejum para o procedimento.
Foi um estudo de não inferioridade, unicêntrico, randomizado, de 739 pacientes submetidos à cinecoronariografia (517) ou angioplastia (222).
O desenho do trial incluía inclusive procedimentos complexos como oclusões crônicas, lesão de tronco ou uso de rotablator.
O desfecho primário - composto de reação vasovagal, hipoglicemia e náuseas / vômitos - foi de 8.2% (grupo sem jejum) vs 9.9% (jejum de 6 horas), atingindo a margem de não inferioridade.
🫁 O desfecho secundário de pneumonia aspirativa teve uma incidência de 0% em ambos os grupos.
Também não houve diferença no desfecho secundário de lesão renal por contraste, apesar de mais prevalente no grupo que não fez jejum (4% vs 2%, p = 0.08).
Dificilmente esse tudo sairá alterando protocolos hospitalares de jejum pré-cateterismo. Mas é um grande passo - e suporte - para evitarmos suspender procedimentos sem a real necessidade.
Um hospital IA?
Caiu na Mídia
O jornal inglês The Sun noticiou, essa semana, a proposta de criação de um hospital baseado somente em inteligência artificial (IA) em Pequim.
Por meio de uma tecnologia baseada somente em IA, o projeto promete tratar mais de 10.000 pacientes em poucos dias.
Testes realizados por pesquisadores chineses demonstraram que os “médicos” dessa IA alcançaram uma impressionante taxa de precisão de 93,06% no conjunto de dados MedQA (questões do Exame de Licenciamento Médico dos EUA).
Assim, seriam capazes de diagnosticar e orientar o tratamento de diversas condições (especialmente infecções respiratória) de forma extremamente eficiente.
A proposta é de que esse projeto possa estar em funcionamento já na segunda metade de 2024.
Sabemos que a IA está longe de conseguir substituir o senso crítico “humano” em uma situação de vida real da prática clínica.
No entanto, o uso de tecnologias como essa para acelerar processos de diagnóstico e conduta pode estar mais próximo que imaginávamos. Que mais pesquisas clínicas possam demonstrar a eficiência e segurança dessas medidas.
Imagem da Semana
O dispositivo metálico que podemos observar nesse corte coronal de uma angiotomografia do coração é um Amplatzer.
Você sabe as condições que indicam o seu implante na prática clínica e os riscos do procedimento?
Não?
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O giro pelas principais publicações
💊 Não foi dessa vez… O uso da atorvastatina não foi suficiente para retardar a progressão da doença calcífica na valva aórtica bicúspide.
🔎 Atenção com as placas vulneráveis! Artigo de revisão do JACC: Asia traz um apanhado do tratamento medicamentoso e intervencionista dessas lesões.
👶 Para os amantes da cardiopediatria: statement da AHA sobre o manejo de crianças e adolescentes com IC.
🚰 Interessante estado-da-arte do JACC para compreendermos a injúria por re-perfusão nos pacientes com IAM. Um ótimo tema para a PRIME 🏅,hein?
⚡ Cardiomiopatia induzida por arritmias: mais uma bela revisão do JACC.
💻 Em pacientes com IAM e DAC multiarterial, a avaliação da atividade da placa aterosclerótica por meio do PET-CT auxiliou na avaliação prognóstica e na identificação da lesão culpada.
👨🏽🔬 Como implementar ciências para o tratamento da obesidade? Um statement na revista Circulation.