Na edição de hoje:
🧨 Resultado do ISCHEMIA e o tipo de intervenção;
⚡ Bloqueio do gânglio estrelado para controle de tempestade elétrica;
😴 Insônia, mulheres e risco CV.
Uma questão de perspectiva
Subanálise ISCHEMIA (JACC)
Há anos discutimos as nuances do estudo ISCHEMIA - e, claro, seus resultados podem ser interpretados sob diversas perspectivas.
📝 Relembrando:
Esse estudo, publicado em 2020, demonstrou que o risco de eventos cardiovasculares foi semelhante no seguimento médio de 3,2 anos nos pacientes com isquemia moderada a grave submetidos a revascularização ou mantidos em tratamento conservador.
Foi publicado no JACC uma subanálise para compreender melhor os resultados do ISCHEMIA sob a seguinte ótica: há diferença entre o tipo de revascularização miocárdica (percutânea ou cirúrgica) adotada e o momento em que aconteceram os eventos?
Os pacientes foram divididos em 3 grupos com os seguintes desfechos:
INV-CABG: 512 pacientes submetidos a cirurgia de revascularização miocárdica (CRM);
O desfecho primário ocorreu em 84 dos 512 pacientes (16,4%), dos quais 48 (57,1%) ocorreram nos primeiros 30 dias após a cirurgia, incluindo 40 infartos do miocárdio periprocedimento.
INV-PCI: 1500 pacientes submetidos a angioplastia (ATC);
A taxa de eventos adversos foi de 47 de 1500 pacientes (9,8%), com 31 eventos (21,1%) ocorrendo nos primeiros 30 dias após o procedimento, incluindo 24 infartos do miocárdio periprocedimento.
CON: 2591 pacientes mantidos em terapia conservadora.
352 (13,6%) tiveram eventos adversos, sendo 22 (6,3%) nos primeiros 30 dias após a randomização.
🥛 Interpretando esses resultados:
O copo meio vazio: a maior taxa de eventos nos pacientes submetidos a estratégia invasiva ocorreu nos primeiros 30 dias (muito à custa do infarto periprocedimento no grupo da CRM).
O copo meio cheio: houve uma menor taxa de eventos nos períodos subsequentes quanto comparado à terapia conservadora.
Em conclusão, ao indicar uma estratégica intervencionista para o seu paciente com DAC pense: ele tem um risco periprocedimento baixo e uma expectativa de vida prolongada o suficiente para se beneficiar dos riscos da intervenção (seja cirúrgica ou percutânea)?
Os resultados de um estudo precisam ser sempre interpretados de maneira crítica e não como verdade universal, ajustando-os à realidade de cada paciente.
A cardiologia de olho nas estrelas
Estudo observacional (EHJ)
Há menos de uma semana do SuperBowl, só temos olhos para as estrelas.
E como a cardiologia não foge à regra, a atenção do European Heart Journal é o estudo STAR!
Esse estudo avaliou o benefício do bloqueio do gânglio estrelado o controle de tempestades elétricas.
🌟Entenda:
O bloqueio do gânglio estrelado reduz o estímulo simpático e tem sido testado como terapia para redução de arritmias.
Não é sempre que conseguimos reunir casos de tempestade elétrica, o que aumenta o valor do estudo, apesar de seu tamanho relativamente pequeno em comparação com outros trials da cardiologia.
Foi um estudo multicêntrico prospectivo entre julho de 2017 a junho de 2023, que incluiu 131 pacientes com tempestade elétrica:
82% masculinos, idade média de 68 anos com disfunção ventricular grave (FEVE média de 25%).
Foram realizadas 184 bloqueios percutâneos do gânglio estrelado (BPGE), com o objetivo primário de reduzir > 50% de arritmias tratadas comparando 12 horas antes e após BPGE.
Resultados:
92% dos BPGE resultaram na redução de mais de 50% das arritmias;
Apenas 1 (0,5%) complicação maior;
Não houve diferença entre: centros de pequeno e grande volume; infusão em bolus ou contínua; BPGE guiado por anatomia ou ultrassom.
Longe de ser uma terapia perfeita ou definitiva para uma apresentação clínica infrequente e potencialmente fatal, o estudo STAR nos mostra que o bloqueio do gânglio estrelado deve ser aventado em pacientes com tempestade elétrica por ser uma terapia segura e eficiente.
Mulheres vs Insônia
Coorte (Circulation)
Uma boa noite. Apesar de parecer o básico, para muitas mulheres é um privilégio raro.
Metade das mulheres na meia idade relatam problemas de sono.
Já que a doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morte entre as mulheres, será que existe alguma associação entre exposição prolongada a problemas de sono e eventos cardiovasculares nessa população?
Para responder essa pergunta, foi publicado um estudo no Circulation no qual pesquisadores avaliaram dados de mulheres participantes do estudo SWAN (Study of Women’s Health Across the Nation), cujo sono foi avaliado até 16 vezes ao longo de 22 anos.
Além da duração típica do sono diário, também foram compilados outros dados, com destaque para os sintomas de insônia, que foi classificada como: dificuldade para adormecer, acordar várias vezes à noite ou acordar mais cedo do que o planejado ≥3 vezes/semana.
A partir desses dados, 4 trajetórias de sintomas de insônia emergiram:
sintomas baixos de insônia;
sintomas moderados de insônia diminuindo ao longo do tempo;
sintomas baixos de insônia aumentando ao longo do tempo; e
sintomas altos de insônia que persistiram.
E o resultado da pesquisa de associação com DCV?
Mulheres com sintomas persistentemente altos de insônia tiveram maior risco de eventos cardiovasculares, como IAM fatal ou não fatal, AVC, IC e revascularização miocárdica.
Fica claro que o sono é um pilar fundamental da saúde de uma forma geral, com impacto significativo sobre o coração!
Sendo assim, cardiologistas, precisamos entender e abordar o sono das nossas pacientes!
Brasil, o país das vacinas
Caiu na Mídia
Nem parece que há poucos anos estávamos discutindo se iríamos virar jacaré ao tomar uma vacina rs.
Essa semana, foi publicado no NEJM o estudo de fase 3 que demonstrou a eficácia do imunizante em dose única contra a dengue desenvolvido pelo Butantan.
A eficácia após 2 anos de vacinação beirou os 80% nos pacientes sem exposição prévia à dengue e foi de 89,2% naqueles com histórico da doença.
A expectativa é que a Anvisa autorize o uso da vacina a partir de 2025.
Por enquanto, a campanha de vacinação do SUS será realizada com o imunizante em 2 doses do laboratório japonês Takeda (Qdenga), inicialmente para a populações de risco (crianças e adolescentes de 6 a 16 anos) e posteriormente para o restante da população até 60 anos.
Imagem da Semana
Que tal um desafio? Observe bem essa imagem de um cateterismo direito com cateter de SwanGanz.
Quem sabe os amigos do @mandaprocate não ajudam nessa? rs
Deu a louca no The Lancet
⚡ Uma das principais revistas médicas resolveu publicar uma série sobre Fibrilação Atrial.
Uma sequência de 5 artigos abordando todos os tópicos atualizados sobre FA:
Deixar os links guardados pode ser fundamental para consultas e estudos futuros 🤓
Outras novidades para você ficar por dentro
💾 Do básico ao avançado: o NEJM publicou uma completa revisão sobre os dispositivos cardíacos implantáveis.
⌚ O futuro é agora! Mais uma revisão sobre o uso de tecnologias móveis na cardiologia (incluindo os wearable devices!).
👁️🗨️ Editorial da EHJ mostra porquê não temos estabelecido rotina de teste de isquemia após angioplastias.
🤰🏼 Para os amantes de escores: novo escore para predizer recuperação após miocardiopatia periparto!
🧛🏻♂️ ASCOT trial e a importância da pressão sistólica!
🏃🏻♀️ Revisão da revista HEART sobre o papel da reabilitação cardiovascular na prevenção secundária.