Na edição de hoje:
💊 Colchicina para diabéticos pós IAM;
🪠 Tratar ou não tratar DAC em paciente que vai para a TAVI;
⌚ O papel dos wearables na cardiologia.
Esqueceram de mim: edição colchicina
Ensaio Clínico Randomizado (Diabetes Care)
Não é raro vermos a colchicina entrar como pauta nas discussões do arsenal terapêutico do cardiologista.
Tudo começou com os estudos COLCOT e LoDoCo2 que demonstraram redução de eventos cardiovasculares com o uso da colchicina 0,5 mg/dia em pacientes com doença arterial coronariana (DAC) estável e após IAM, respectivamente.
Mesmo assim essa moda não pegou. Mesmo após publicações, como o estado da arte do JACC, no ano passado, acerca do uso da colchicina na DAC.
Já foi de grande valia para nos alertar sobre a relação entre a inflamação e a doença coronária.
E quem mais inflamado que os pacientes diabéticos, não é mesmo?
Nesse contexto, os endocrinologistas entraram nesse hype com a publicação no Diabetes Care de um subestudo do COLCOT, que avaliou o benefício da colchicina no subgrupo de pacientes diabéticos pós-IAM.
Observaram um benefício ainda maior em desfechos cardiovasculares para os diabéticos que na população geral do primeiro estudo: redução de 1,6% no primeiro estudo (NNT = 63) e 4,4% (NNT = 23) na população de diabéticos.
Assim, reforça o papel da inflamação na DAC, e mantém a colchicina como opção extra no tratamento de pacientes diabéticos e coronariopatas em terapia já otimizada.
Hora da verdade:
Estenose Aórtica + DAC = tratar?
Coorte (European Heart Journal)
Muita calma nessa hora.
Até 50% dos pacientes com estenose aórtica podem apresentar DAC, muitos deles com DAC obstrutiva.
A questão é: o que tratar e em que ordem?
Apesar do receio quanto a complicações na troca valvar aórtica percutânea (TAVI) em função da DAC, estudos recentes têm demonstrado bons resultados da TAVI sem revascularização.
Um estudo publicado no EHJ de um grupo de Cleveland reforça esse fato. Vamos entendê-lo:
Ensaio retrospectivo e observacional entre os anos de 2015-2021.
Incluiu 1911 pacientes submetidos a TAVI, divididos em extratos de DAC:
DAC não obstrutiva: 75%
DAC obstrutiva de risco intermediário: 6%
DAC obstrutiva de alto risco: 10%
DAC obstrutiva de extremo risco: 9%
Resultados:
Eventos adversos foram baixos e semelhantes entre pacientes com e sem DAC obstrutiva: morte (0,4%), choque (0,1%) e ECMO (0,1%).
Mortalidade e MACE não foram diferentes nos estratos com DAC e sem DAC obstrutiva.
Devemos ter cuidado ao analisar os dados de estudos não randomizados, mas a constatação de baixos eventos adversos corrobora com a conduta conservadora em relação aos pacientes com estenose aórtica e DAC, no sentido de revascularização.
Parece que ter calma é a melhor pedida.
Aquela “espiadinha” nos wearables devices
Artigo de Revisão (NEJM)
Quem já é leitor antigo da Doze News deve lembrar de uma edição em que o papel dos wearables devices na cardiologia foi destaque em um belo paper do The Lancet Digital Health.
Agora, nada mais nada menos que o NEJM nos presenteia com um artigo de revisão sobre o papel dos wearables devices na monitorização cardiovascular.
Não tem mais volta: a tecnologia na saúde veio pra ficar!
Imagine o seguinte cenário clínico:
Mulher de 62 anos, hipertensa, apresenta-se ao PS com IC descompensada e FA recém-identificada com alta resposta ventricular.
A paciente recebe cardioversão elétrica, início de anticoagulação, terapia antiarrítmica e para IC. Posteriormente, ela foi inscrita em um programa de monitoramento remoto de pacientes, recebendo um kit com equipamentos para monitoramento em casa. Que sonho!
É aí que o artigo fica interessante! A partir desse caso clínico, os autores apresentam 2 modelos de monitorização remota dos pacientes:
O modelo clássico, caracterizado por observações pontuais de parâmetros de interesse, que certamente está associado a um risco maior de gaps, sobretudo para pacientes com FA e IC.
E as tecnologias digitais de saúde (DHT) vestíveis, capazes capturar medições de dados contínuos ou semicontínuos (FC, SatO2, FR, ritmo cardíaco).
Vale muito a pena conferir como esse modelo de assistência pode entregar mais valor ao cuidado integrado do paciente, sem esquecer das limitações e dificuldades para implementação na prática clínica.
Ataque cardíaco por lagarta venenosa?
Caiu na Mídia
A notícia que movimentou a mídia essa semana foi o “ataque cardíaco” sofrido pelo ator Jamie Dornan (o Christian Grey na série 50 Tons de Cinza) após contato com uma lagarta de fogo (famosa “taturana” em algumas regiões).
Parece que a história não foi bem assim.
Os relatos contam que durante uma partida de golfe com um colega em Portugal o ator teve contato com as cerdas venenosas das lagartas e passou a apresentar mal estar, parestesia em membro superior e queimaduras locais.
Os sintomas condizem com os efeitos locais do contato com o veneno das lagartas, porém longe de ter sido um evento cardiovascular rs.
Por fim, algumas revisões citam a associação entre a toxina das lagartas do gênero Lonomia e eventos hemorrágicos, porém nada em relação quadros isquêmicos.
Imagem da Semana
Primeiramente, parabéns a Marco Victor Hermeto por ter sido o primeiro a acertar a resposta do desafio da semana passada: “lesões ovaladas radiopacas distribuídas em partes moles ao redor dos membros superiores e inferiores e peitoral, sugestivas de cisticercose”.
A imagem dessa semana é esse belo ecocardiograma de uma cardiomiopatia hipertrófica (CMH) assimétrica obstrutiva com SAM e gradiente sistólico máximo na VSVE de 105 mmHg em repouso.
#DicaDozer: Temos uma DozeNews Prime sobre a investigação da CMH e os seus dagnósticos diferenciais!
Aquele giro pelas principais publicações da semana
🩸 Em pacientes com FA e DRC (ClCr 15-49 mL/min/1.73 m²), o uso da rivoraxabana reduziu eventos renais adversos e morte por todas as causas, quando comparado à varfarina.
🦠 Grande metanálise no JACC demonstrou discreta redução em eventos trombóticos com o uso de terapia antitrombótica em pacientes com endocardite infecciosa.
🗣️ Metanálise publicada na revista europeia demonstrou o benefício de comunicar o risco cardiovascular para os pacientes!!!
👩 Seguindo os achados da disparidade de gênero na cardiologia, mulheres recém diagnosticados com IC recebem prescrições menos otimizadas, conforme artigo publicado no Circulation.
✋🏿 Revisão publicada no JACC destaca as disparidades raciais e étnicas entre pacientes submetidos à cirurgia cardíaca.
👶🏼 Para os cardiopediatras: ensaio clínico randomizado publicado no NEJM não demonstrou benefício em mortalidade ou redução de displasia broncopulmonar com o uso precoce do ibuprofeno em pré-termos extremos (23-28 semanas).