Uma nova era para a valva tricúspide
Como a clipagem está transformando o manejo da valva esquecida
Insuficiência tricúspide em foco
Ensaio Clinico Randomizado (JAMA)
É, não podemos mais ignorá-la. Parece que, finalmente, chegamos a métodos eficientes na intervenção da insuficiência tricúspide (IT).
Transcatheter edge-to-edge repair (TEER), clipagem, plicatura borda-a-borda. Já pode ir se acostumando a esses termos.
Se essa metodologia já é velha conhecida no tratamento da IM secundária por meio do MitraClip, a bola da vez é o uso do TriClip™ para redução da IT secundária.
O seu benefício foi, mais uma vez, confirmado no estudo Tri.Fr. Publicado no JAMA, foi um ensaio que incluiu 300 pacientes de 24 centros da França e Bélgica, randomizados para TEER da tricúspide com o TriClip + terapia medicamentosa otimizada (TMO) ou TMO isoladamente.
O desfecho primário foi composto por melhora de classe funcional (NYHA), avaliação de qualidade de vida (KCCQ score) e ocorrência de eventos cardíacos maiores em 1 ano.
Vamos aos resultados:
Win Ratio do desfecho composto: 2.06 (95% CI, 1.38-3.08) (P < 0,001);
KCCQ score em 1 ano: 69,9 no grupo T-TEER + TMO e 55,4 (DP, 28.8) no grupo TMO (P < 0,001);
Em 1 ano: 109 (74,1%) pacientes melhoraram classe funcional no grupo TTEER+TMO x 58 (40,6%) no grupo TMO.
Sim, esses resultados não são grande novidade, mas colocam mais um pedrinha na consolidação da terapia percutânea da valva tricúspide. Ainda faltam estudos mais robustos que demonstrem o benefício clínico dessa terapia.
Apesar de ainda pouco disponível no Brasil, já há experiência nacional em centros capacitados para a realização do procedimento.
🤿 Quer se aprofundar?
Temos resumo da DozeNews Prime sobre as metodologias de abordagem percutânea da valva tricúspide ⬇️
Morte súbita em atletas
Artigo de Revisão (The Lancet)
No último ano, a ocorrência de morte súbita durante eventos esportivos parece ter tomados as manchetes dos jornais.
Desde a morte do jogador uruguaio Izquierdo, ao susto com o filho do “papai Lebron” e ainda essa semana foi noticiado mais um caso em um jogador do campeonato italiano de futebol.
Não só no mundo profissional, nos eventos amadores as fatídicas notícias também parecem ter se tornado mais comuns.
🤯 O que está acontecendo? O risco tem aumentado, a prevenção está sendo insuficiente ou simplesmente temos prestado mais atenção?
Um estudo publicado no The Lancet procurou trazer luz a essas questões. Por meio de uma extensa revisão bibliográfica, avaliaram os principais aspectos que envolvem a morte súbita em atletas competitivos e categorias "master”(> 35 anos), apresentando-nos a epidemiologia atual, principais causas, e considerações acerca do manejo e prevenção.
Primeiro vamos de epidemiologia, na qual alguns números imediatamente chamam nossa atenção:
Apesar da incidência variar amplamente entre os estudos, é possível de notar de forma consistente uma disparidade entre atletas negros e brancos, em que os primeiros apresentam até 5x mais risco de parada cardíaca súbita e morte em comparação aos últimos, e a taxa de sobrevivência após uma parada cardíaca é aproximadamente metade da taxa observada em atletas brancos não hispânicos.
As principais causas variam a depender da idade:
em < 35 anos: predominam causas estruturais (como a cardiopatia hipertrófica) ou congênitas (como a origem anômala de coronárias).
em ≥ 35 anos: como esperado, nos mais idosos a DAC assume o seu protagonismo, podendo levar a morte súbita em 0,39 casos por 100.000 para maratonas completas (parece pouco? Você já viu o seu feed do Instagram? rs).
Além disso, o estudo sublinha a importância crítica de planos de ação de emergência bem estruturados. A presença de DEAs e o treinamento na realização do atendimento inicial são enfatizadas como medidas que podem drasticamente aumentar as taxas de sobrevivência em casos de parada cardíaca súbita, especialmente em ambientes escolares e esportivos.
Em mundo no qual os esportes estão cada vez mais competitivos e a participação em eventos amadores cada vez mais comum, é essencial que saibamos como orientar os nossos pacientes quanto à prevenção.
🏆 Vem de dica!
Episódio do DozeCast campeão de audiência com o Dr Silvio Póvoa sobre a abordagem da atividade física no consultório:
Quilos mortais
Artigo de revisão (JACC)
A guerra do Dr. Nowzaradan contra os "Quilos Mortais” também pode fazer sentido no universo do cardiologista quando o assunto é morte súbita cardíaca (MSC)! O JACC nos brinda com novas reflexões sobre o tema.
A obesidade, que já virou epidemia mundial, é um player de peso (sem trocadilhos rs) nas doenças cardiovasculares. Agora sabemos que ela vai além de ser um “fator de risco”: em muitos casos, é um motor independente de MSC.
Por que a obesidade preocupa?
Obesidade visceral manda no jogo: não é só o IMC. A gordura abdominal é mais tóxica, alterando metabolismo, estrutura cardíaca e sistemas elétricos.
Apneia do sono e MSC: obesidade e apneia dormem juntas — literalmente. A apneia pode atuar como gatilho para MSC, principalmente à noite.
Paradoxo da obesidade: em doenças crônicas, obesidade leve pode parecer protetora. Mas não se engane, é mais exceção do que regra.
Como identificar riscos?
Ainda estamos engatinhando na estratificação de risco da MSC em obesos. As ferramentas que usamos hoje, como fração de ejeção reduzida e o uso de CDI, não dão conta do recado. Precisamos de biomarcadores mais inteligentes e métodos que considerem a composição corporal.
Novidades no Front:
GLP-1 na jogada: esses agonistas já mostraram que são potentes em reduzir peso e melhorar parâmetros cardiovasculares. Pode vir uma solução aqui.
Bariátrica: além de diminuir peso, ajuda na saúde cardiovascular, mas precisamos de mais estudos sobre impacto direto na MSC.
Desafios no consultório
Como clínicos, enfrentamos uma equação complexa. Obesidade está intimamente ligada a fatores como HAS, diabetes e dislipidemia, mas isso não explica tudo. Ainda há buracos na nossa compreensão dos mecanismos que levam à MSC nesses pacientes.
Quais devem ser os focos para que consigamos entender melhor a associação entre obesidade e MSC, bem como vencer a guerra contra os quilos mortais?
Comunidade: estratégias que envolvam políticas públicas e prevenção social.
Estudos robustos: especialmente sobre terapias inovadoras e novos preditores de risco.
Abordagem personalizada: não dá para usar o mesmo manual para todos os pacientes obesos.
Pois é… A obesidade tem muito mais influência na MSC do que imaginávamos. Além de atuar como substrato, ela também cria gatilhos para eventos fatais.
Nossa missão? Reforçar a prevenção, adotar novas tecnologias e estratégias personalizadas.
Como vai o salário?
Caiu na Mídia
Um levantamento do Medscape demonstrou que os cardiologistas estão no top 3 dos maiores salários médicos nos Estudos Unidos (EUA).
Ainda assim, os cardiologistas não parecem muito satisfeitos… (chama eles aqui para o Brasil rs).
Mesmo estando no topo dos salários médicos de um país conhecido por remunerar bem os seus médicos (mais que Brasil, Argentina, Canadá, México e até mesmo vários países europeus), muitos deles relatam precisar, ainda, compensar com turnos extras (os chamados moonlights, comumente dentro da área médica).
Esses foram alguns dos argumentos trazidos pelos próprios médicos ao relatório:
ainda não se sentem financeiramente estáveis;
há a necessidade da devida compensação financeira pelo tempo, dinheiro e sacrifício impostos durante os intermináveis anos de formação;
o sentimento de precisar ser devidamente remunerados por “salvar vidas”, quando comparados, por exemplo, a áreas de entretenimento que ganham mais.
De forma um pouco mais ampla, essa discussão encaixaria muito bem na realidade brasileira, na qual apesar de bem remunerados em comparação às demais áreas da saúde, parte da comunidade médica ainda exige melhores salários.
O que você acha: concorda com os cardiologistas norte-americanos nos questionamentos? Eles estão ganhando bem e nós mal? Ou ambos não temos nada a reclamar?
Deixe sua opinião nos comentários!
Imagem da Semana
Um grave estreitamento na região ístmica em uma paciente de 8 anos com valva aórtica bicúspide, para lembrar que você precisa ler a última DozeNews Prime sobre Coarctação da Aorta!
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😎 Pacientes com IC FER com marca-passo submetidos a upgrade para terapia de ressincronização apresentaram bons resultados em redução de sintomas e melhora da capacidade funcional, em subanálise do estudo BUDAPEST.
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🙏🏼 Amém! Estudo mostra tendência de queda da ocorrência de morte súbita em jovens nos últimos 20 anos!
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