Na edição de hoje:
🚬 Possível papel do VAPE na cessação do tabagismo;
🧂 Sal de KCl como opção cardiovascular segura ao NaCl;
🧠 Associação de lesão medular com risco cardiovascular.
O vape pode ajudar a parar de fumar?
Ensaio Clínico Randomizado (JACC)
Abra a mente para a evidência científica, nem tudo na cardiologia (ou na vida) é completamente certo ou errado.
Profundo? rs.
Na verdade estamos apenas falando dos cigarros eletrônicos (os e-cigarettes ou vape): esses dispositivos foram criados como uma alternativa para a cessação do tabagismo, mas tornaram-se um novo vício com comprovados malefícios à saúde pulmonar e cardiovascular.
Sem perder de vista essa possibilidade de ver um benefício dos cigarros eletrônicos, os suíços testaram a hipótese da segurança e eficácia do seu uso na cessação do tabagismo, em estudo publicado no NEJM.
Foi um ensaio clínico aberto que randomizou 1246 pacientes tabagistas (pelo menos 5 cigarros/dia) com desejo de parar de fumar para receber a terapia padrão (aconselhamento e possibilidade de reposição de nicotina) ou essa terapia associada aos e-cigarettes.
O desfecho primário foi a interrupção do tabagismo por pelo menos 6 meses.
Vamos aos resultados:
Maior abstinência aos 6 meses em usuários do cigarro eletrônico: 28,9 x 16,3 (RR: 1,77, CI 95% 1,43 - 2,20)
No entanto, a taxa daqueles que se mantiveram abstinentes a qualquer tipo de nicotina foi 20,1% no grupo intervenção vs 33,7% na terapia padrão.
Não houve diferença entre os grupos quanto a eventos adversos.
O estudo não avaliou a durabilidade do uso de cigarros eletrônicos após o fornecimento gratuito por seis meses, nem se a eficácia se mantém após esse período.
Dessa forma, apesar de evidências interessantes quanto a um possível papel dos vapes na cessação do tabagismo, especialmente para aqueles sem sucesso com tratamentos convencionais, ainda temos um longo caminho antes de poder adicioná-los às nossas prescrições.
Vale destacar que a SBC publicou no início desse ano um posicionamento sobre esses dispositivos eletrônicos, seus riscos à saúde e 10 porquês para defender a manutenção da sua proibição no nosso país.
🎙O DozeCast tem um episódio sobre a interrupção do tabagismo e o VAPE com a participação do Dr Márcio Sousa!
Last chance, students!
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É a última semana para se inscrever.
Se não pode com eles, junte-se a eles
Ensaio Clínico Randomizado (JACC)
Há anos lutamos para tentar reduzir a ingesta de sal no mundo (são raros os pacientes que seguem a orientação < 5 g/dia, e a média de consumo da população pode chegar a 10,8 g/dia).
Se não conseguimos reduzir, talvez seja hora de encontrar um substituto a altura ao querido sal.
Uma bela descoberta pode remodelar as diretrizes dietéticas para a prevenção da hipertensão:
Um estudo recente, publicado essa semana no JACC, investigou os efeitos da substituição do sal na saúde cardiovascular de idosos com pressão arterial normal.
O trial em questão foi uma análise post-hoc do DECIDE-Salt que randomizou idosos de 48 casas de apoio na China para receber o sal convencional vs o substituto.
🧂 Quem foi esse tal substituto?
Consistia em 62,5% de cloreto de sódio (NaCl), 25% de cloreto de potássio (KCl) e 12,5% de aromatizantes.
A subanálise consistiu em 609 pacientes com média de idade de 71 anos e normotensos (PA média 122x74 mmHg).
Os resultados do estudo indicaram que, em comparação com o grupo que consumiu sal convencional, o uso do substituto reduziu em 40% o risco de evolução com hipertensão (HR ajustado: 0,60; IC 95%: 0,39 a 0,92).
Adicionalmente, a mudança para o substituto do sal não resultou em um aumento na incidência de episódios de hipotensão, mantendo-se estável em comparação com o grupo de controle.
Este estudo fornece evidências valiosas de que a substituição do sal convencional por um substituto pode ser uma estratégia eficaz para reduzir a incidência de hipertensão entre idosos com pressão arterial normal, sem aumentar o risco de hipotensão.
A cardiologia indo além do coração
Coorte (JACC)
Há uma tendência na cardiologia em expandir o seu olhar além do território cardiovascular.
Percebemos isso na edição da semana passada, na qual descrevemos um artigo que associa a infecção pelo HPV e um maior risco de eventos cardiovasculares.
Essa semana, foi publicado no JACC um artigo que estudou a associação entre a maior ocorrência de complicações cardíacas em pacientes sobreviventes de lesões da medula espinal.
Essa população tem uma menor sobrevida que aqueles sem lesão espinal, e, recentemente, as causas cardiovasculares destacaram-se como as principais (superando até as infecções pulmonares).
Foi uma coorte que incluiu 5083 pacientes com lesões espinais cervical, torácica e lombar, acompanhados por um período médio de 4,3 anos.
Após o ajuste para o demais fatores de risco, observaram que pacientes com lesão medular apresentaram maior risco de infarto do miocárdio (HR 2,41), IC (HR 2,24), e FA (HR 1,84) que os controles, independente do nível da lesão.
🤔 O que pode justificar esses achados?
Os autores do estudo associam o maior risco cardiovascular à disautonomia (que inclui alterações no funcionamento do sistema nervoso simpático e dificuldades no controle pressórico), principalmente em lesões espinais mais altas, como também à dificuldade na mobilidade e distúrbios alimentares naqueles com lesões ao nível lombar (que aumentam os demais fatores de risco).
Assim, o estudo serve de alerta para um maior cuidado no manejo cardiovascular nesse grupo de pacientes, com atenção especial para o controle dos fatores de risco.
Arritmia no jogo do Flamengo
Caiu na Mídia
Quem costuma assistir ao programa da GNT “Que História É Essa, Porchat?” já deve ter visto um quadro no qual a plateia conta algumas experiências marcantes.
Bombou nas redes sociais, essa semana, um delas na qual um torcedor do Flamengo tem uma taquicardia supraventricular ao assistir um jogo em 2019.
Levou bem a sério a ideia de time do coração rs.
O sofredor foi Matheus Lima, que conta já ter o diagnóstico prévio de síndrome de Wolff-Parkinson-White, e ao assistir às cobranças de pênalti do jogo válido pelas oitavas de final da Libertadores no Maracanã, começou a sentir as conhecidas palpitações.
Foi diagnosticado com taquicardia supraventricular e encaminhado a um hospital, onde foram revertidas.
Para quem já lidou com um episódio semelhante no plantão, vale a pena demais ver a descrição dele do evento (principalmente do efeito da adenosina rs).
Fica aqui o link do vídeo:
A história é de taqui supra, mas se fosse uma FA? Você saberia tratar?
A #DicaDozer da vez fica por conta da DozeNews Prime publicada semana passada sobre FA no plantão! Quem sabe logo não complementamos com uma TPSV?
In Memoriam
Essa edição da DozeNews é em homenagem ao professor Alain Cribier, que faleceu essa semana, aos 79 anos. Ele foi o grande nome no tratamento percutâneo das valvopatias e revolucionou o manejo da estenose aórtica ao realizar o primeiro implante de valva aórtica por cateterismo em 2002.
🖤 A cardiologia está em luto.
Imagem da Semana
Cateterismo cardíaco de paciente com situs inversus. Observe na figura A o tronco da coronária esquerda, artéria descendente anterior e circunflexa direcionadas para o ápice cardíaco à direita; e na figura B a artéria coronária direita.
Um giro pelas principais publicações
🫀 Novo escore de risco prediz a mortalidade de pacientes na lista de transplante nos EUA.
👩🍼 Nova diretriz publicada no JACC sobre a participação de adultos com cardiopatias congênitas em esportes competitivos.
💉 Vacinas SARS-CoV-2 mRNA: estudo nórdico confirma risco baixo risco de miocardite; porém quanto maior a dose, maior risco.
🎒 Combate às vesículas extracelulares: como reduzir a injúria miocárdica após infarto.
🖥️ Inovações da cardiologia: dispositivos desenvolvidos no século 20 e 21!
🏛️ Tudo que você deve saber sobre insuficiência cardíaca de fração de ejeção preservada! Seminário do The Lancet.
👧 O que acontece com crianças com miocárdio-não compactado? Veja esse follow-up após o diagnóstico ecocardiográfico.